Público
Sábado, 02 de Outubro de 2004
O MÍNIMO QUE SE EXIGE é que Maria do Carmo Seabra encontre justificações que ajudem a entender por que motivos dois fornecedores diferentes revelam desempenhos tão diversos e, pelo que se consegue perceber, em troca de contrapartidas que estão longe de serem idêntica
O estranho mundo da informática
O mundo da informática tem mistérios cujo esclarecimento não está acessível ao comum dos mortais. Conta-se, até, a história de quatro amigos, entre os quais um especialista nesta complexa ciência, que seguiam tranquilos num automóvel quando este se avariou. Perante um motor que teimava em não obedecer aos comandos da chave de ignição, os ocupantes do veículo dedicaram-se a dar palpites sobre o diagnóstico e a solução do problema. Mas o incidente só foi ultrapassado quando o engenheiro de informática sugeriu que saíssem todos do carro e voltassem a entrar. Concretizada esta simples operação, que num computador se resume a fazer um "restart", o bólide começou novamente a roncar, pronto para seguir viagem.
A novela sobre a colocação de professores nas escolas pode ser incluída no grupo de histórias que ajudam a fazer do mundo da cibernética um vasto terreno para as mais variadas perplexidades. Meses de trabalho sobre uma solução informática que devia funcionar de forma eficaz, evitando o atraso no começo das aulas que está a afectar milhares de famílias, pareciam ter sido inúteis perante uma alternativa que terá sido pensada em seis dias e executada em meia hora. Mas os erros denunciados pelos sindicatos revelam que, nesta matéria, depressa e bem são expressões impossíveis de aplicar.
Algo de estranho se passou por detrás deste episódio que não deixa de fornecer uma boa caricatura da lotaria que é a prestação de serviços de informática em Portugal. O Governo prometeu investigar responsabilidades em todo o acidentado processo e a ministra da Educação começou pela dispensa de dois directores-gerais. Mas o mínimo que se exige é que Maria do Carmo Seabra vá mais longe e encontre justificações que ajudem a entender por que motivos dois fornecedores diferentes revelam desempenhos aparentemente tão diversos em troca de contrapartidas que estão longe de serem idênticas. E que, ainda assim, não conseguem evitar os "milhares de erros" que continuam a retirar todo o crédito às listas de colocação.
Os percalços em redor da abertura do ano lectivo suscitam ainda outra questão. Quantos departamentos do Estado estarão apetrechados com soluções informáticas que não resolvem os seus problemas, apesar dos esforços de investimento na melhoria dos serviços públicos que vão tendo expressão orçamental, ano após ano? A resposta poderá ser incómoda mas a revelação de uma das fontes de desperdício de dinheiros públicos pode rondar por aqui.
Saturday, October 02, 2004
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