Tuesday, December 25, 2007

COISAS DA SÁBADO: A DIFERENÇA ENTRE O JORNAL DE NOTÍCIAS E O DIÁRIO DE NOTÍCIAS

21.12.07


COISAS DA SÁBADO: A DIFERENÇA ENTRE O JORNAL DE NOTÍCIAS E O DIÁRIO DE NOTÍCIAS

No dia em que a operação “Noite Branca” começou a prender suspeitos de serem responsáveis pelo clima de violência no Porto, a comparação entre um jornal de Lisboa, o Diário de Notícias, e um do Porto, o Jornal de Notícias, no mesmo dia 17 de Dezembro, não podia ser mais significativa. O Diário de Notícias falava das biografias e do background dos detidos, fazendo nota, como é óbvio, do seu profundo envolvimento com a claque do FCP, os Super Dragões. Na verdade nenhum destes homens se tornou conhecido por ser segurança na noite, nem por frequentar ginásios e mesmo as suas páginas e vídeos guerreiros (*) nunca tinham merecido muita atenção. Onde eles apareciam era à frente da claque em filmes (a SIC mostrou-os) e em fotos de segurança aos dirigentes do clube. No Jornal de Notícias tudo isto é cuidadosamente omitido e os presos aparecem sem biografia, ou apenas com uma referência casual e singular a essa pertença. De facto, o Jornal de Notícias parece ser um jornal do Casaquistão tal é a ignorância do que se passa à sua volta. Mas não é, é mesmo do Porto e esse é que é o problema: é do Porto e cala.
(*) No Jornal de Notícias nunca se viu. por exemplo, isto? No Jornal de Notícias as letras destas músicas nada tem a ver com o que se passa? De facto só não vê quem não quer ver e é por isso que a estatueta dos macacos que ofereceram a Gandhi está aqui muito bem aplicada.

Monday, December 24, 2007

Um trambolho no sapatinho

Helena Matos

Público 24 Dez 2007

Tornou-se um lugarcomum
afi rmar que
as crianças recebem
prendas a mais. E
entre aquilo que está a
mais contam-se inevitavelmente
os brinquedos tecnológicos.
Contudo, o desperdício natalício
com as criancinhas não é nada
quando comparado com aquilo
que o Estado português gasta nuns
brinquedos tecnológicos que,
tal como os jogos didácticos que
as madrinhas fazem questão de
oferecer, são supostos desenvolvernos
ludicamente o intelecto.
No rol das prendas
governamentais para os cidadãos
as caixas de correio electrónico são
um item obrigatório. No ano 2000,
o então primeiro-ministro António
Guterres prometeu um “mail para
todos” e num ápice foi criado o
Megamail. Do milhão de caixas
anunciadas apenas uma pequena
parte foi activada e o serviço que
o então ministro da Ciência e
Tecnologia, Mariano Gago, definira
como “ímpar” foi morrendo por
falta de utilizadores. Afinal não só
o Megamail funcionava mal como
sobretudo não fazia falta alguma:
os cidadãos já tinham então caixas
de correio electrónico alojadas em
endereços que funcionavam muito
melhor. Quando se julgaria que esta
infausta experiência levaria a que
se abandonasse a ideia, eis que, em
2005, se percebe que o executivo
olhou para a gaveta das ideias
dispendiosa e disparatadamente
inúteis e volta a teimar em
oferecer-nos uma caixa de correio
electrónico: o “mail para todos”
deu lugar ao “e-mail por cidadão”,
o milhão de caixas passou a dez
milhões, o Megamail passou a
ViaCTT. O entusiasmo do primeiro ministro,
que já não é Guterres mas
sim Sócrates, esse é que imutável:
o ViaCTT, garante Sócrates, é
“um projecto emblemático” do
Plano Tecnológico que procura
garantir a “universalidade” e a
“democratização das tecnologias
de informação”.
Tal como em 2000, se
algo é perfeitamente
acessível aos portugueses
são as caixas de correio
electrónico. Daí que os
dez milhões de caixas de correio
oferecidas pelo Governo e pagas
por todos nós pairem no universo
on-line virtualmente vazias. (E
por lá fi carão, a não ser que as
sucessivas criações do Plano
Tecnológico, como o Sistema de
Queixa Electrónica, nos obriguem
a ter uma.) Tenho, contudo,
de reconhecer que estas caixas
de correio electrónico que o
Governo teima em nos oferecer, à
parte o ninguém precisar delas e
terem representado um absoluto
desperdício, não nos atrapalham
grandemente a vida. O mesmo não
se pode dizer duns trambolhos
que dão pelo nome de quiosque
Infocid, outrora conhecidos como
“janela única da Administração
Pública” ou “um espaço de
importância transcendental para a
administração pública portuguesa
que fará ganhar o país”. As
defi nições são naturalmente de
António Guterres cujos governos
foram férteis em janelas que
abriam para pântanos e promessas
de radiosos amanhãs tecnológicos.
O Infocid deve ser mesmo
um ponto de comunicação
transcendental e de ligação ao
oculto, pois nenhum cidadão
comum consegue que eles
funcionem. Hoje a sua única função
conhecida é atravancar os passeios.
No blogue Sorumbático,
oferecem-se almoços
de lagosta e notas
de 50 euros a quem
encontrar um Infocid
que funcione. Até hoje a lagosta
continua traquilamente vivinha
e as notas dormem na carteira.
Caso o leitor encontre um Infocid
a funcionar, ainda vai a tempo
de ganhar a prenda. E aproveite
o entusiasmo para começar
a coleccionar exemplos do
desrazoamento governamental
na hora de nos oferecer prendas.
Quando os governos resolvem
brincar ao Pai Natal, nem as renas
nos salvam dos trambolhos.

O Infocid deve ser mesmo
um ponto de comunicação
transcendental e de ligação
ao oculto, pois nenhum
cidadão comum consegue
que eles funcionem. Hoje a
sua única função conhecida
é atravancar os passeios.

Um balanço em três tópicos

Público 24 Dez 2007

Santana Castilho

No final dos anos fazem-se balanços. Três tópicos
chegam para reprovar 2007:

1. Contrariamente ao discurso politicamente
correcto, importa referir que o investimento
em educação, medido pela percentagem relativamente
ao que produzimos, interessa pouco como
indicador. Porque 10 por cento de 100 é 10, mas cinco por
cento de 600 é 30. Ou seja, um país que gaste percentualmente
metade de outro, mas que tenha um PIB seis vezes
superior, investe, em valor absoluto, três vezes mais. E é
isso que conta. Porque os preços dos materiais escolares
em Lisboa ou em Estocolmo não têm diferenças relevantes,
em valor absoluto. Assim, sublinhe-se que aquilo que
o nosso Estado gasta, em média, por aluno, em todos os
níveis de ensino, é menos do que o gasto médio respectivo
de todos os países da OCDE. Particularizando, no ensino
superior, Portugal tem um gasto médio de 7700 dólares
americanos, contra os 16.200 da Suécia ou os 22.400 dos
Estados Unidos da América. Por outro lado, em dois anos
de Governo PS, os gastos com a educação decresceram
em Portugal. Mas, em igual período, cresceram na OCDE.
Do mesmo passo, é surpreendente verifi car que na União
Europeia a 27 países a média dos gastos destinados à defesa
representa 1,7 por cento do PIB. Mas em Portugal é 2,3
por cento. Mais ainda: segundo o PNUD (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento), Portugal pertence,
signifi cativamente, ao grupo dos três países em que tais
despesas cresceram, contra 19 outros que as reduziram e
três que as mantiveram. Ou seja: o nosso esforço privilegia
a guerra em detrimento da educação. No Orçamento de
Estado de 2007, os gastos com a defesa cresceram 2,5 por
cento. Mas o dinheiro consignado ao Ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior sofreu um corte de 8,2
por cento. Se considerarmos apenas o ensino, apartada a
ciência, esse corte ascende a 14 por cento. No orçamento
para 2008 as despesas destinadas à defesa crescem 8,5
por cento. Mas o dinheiro destinado ao ensino superior
encolhe cinco por cento. E note-se que, considerado o
intervalo 2005-2007, registou-se um aumento de 17.000
alunos, o que amplia, naturalmente, a dimensão do corte.
Estes números são indesmentíveis e a sua expressão tem
um signifi cado incontrolável: a prioridade à educação
fi cou-se pela demagogia do discurso eleitoral de 2005. A
paixão de Guterres aproximou a percentagem dos gastos
com a educação aos seis por cento do PIB. A prioridade
de Sócrates emagreceu-a para 3,5.

2. No último debate parlamentar discutiu-se a ridícula
paternidade dum diploma e pintou-se a realidade com a
demagogia doutros números, os dos êxitos estatísticos:
mais alunos no sistema, mais sucesso escolar, mais oportunidades
novas para todos. O entusiasmo esganiçado do
primeiro-ministro recordou-me a alegoria de Churchill
sobre o êxito: não é mais que ir de fracasso em fracasso,
mantendo intacto o entusiasmo. O país não melhora
chamando profi ssional a um ensino de papel e lápis, sem
ofi cinas nem laboratórios, diminuindo exigências ao nível
da fraude, diplomando o analfabetismo. Um país que diz
aos seus adultos que chegou a altura de ter “a escolaridade
obrigatória sem frequentar a escola”, aos seus jovens que
podem nem sequer lá pôr os pés que não reprovam por
isso e que organiza cursos de formação de jogadores de
futebol com garantia de equivalência a diplomas escolares,
deve pensar seriamente em reabrir a Universidade Independente.
Os governantes futuros precisam dela.

3. Durante anos, o país fez um esforço para especializar
professores do chamado ensino especial. Apoiavam cegos,
surdos, mudos, defi cientes mentais. A “racionalização”
de recursos substituiu os destacamentos por um quadro.
Mas o quadro fi cou-se pela metade das necessidades. Os
especialistas desempregaram-se ou voltaram ao trivial. Os
que não tinham horários nas escolas e nunca viram uma
criança defi ciente substituíram-nos. Alunos e professores
aguentam a violação em nome do défi ce. Os violadores
vão continuar a promover este desenvolvimento. Professor
do ensino superior

Saturday, December 22, 2007

Basic Guide for Scientists

Basic Guide for Scientists


I. Science Classification

  1. If it's green or it wiggles, it's part of Biology.
  2. If it stinks, it's Chemistry.
  3. If it doesn't work, it belongs to Physics.

II. Rules for Laboratory Workers

  1. When you don't know what you're doing, do it neatly.
  2. First draw your curves, then plot the data.
  3. Experience is directly proportional to the equipment ruined.
  4. Experiments must be reproducible. They should all fail the same way.
  5. A record of data is essential. It indicates you have been working.
  6. In case of doubt, make it sound convincing.
  7. Do not believe in miracles, rely on them.
  8. Teamwork is essential in the lab. It allows you to blame someone else.
  9. Always leave room to add an explanation when it doesn't work.

III. Finagle's Laws, Creed, and Motto

  • First Law - If anything can go wrong with an experiment, it will.
  • Second Law - No matter what result is anticipated, there is always someone willing to fake it.
  • Third Law - No matter what occurs, there is always someone who believes it happened according to his pet theory.
  • Fourth Law - No matter what the result, there is always someone eager to misinterpret it.
  • Creed - Science is truth. Don't be misled by facts.
  • Motto - Smile; tomorrow it will be worse.

Friday, December 21, 2007

Escolas oficiais escolhem alunos com base em notas e origem social

DN 20 de Dezembro de 2007
artur machado
Escolha de estabelecimentos de ensino é objecto de pressões sociais


Fernando Basto

O insucesso escolar é potenciado, em muitas escolas, pela escolha dos alunos com base no seu aproveitamento escolar e na sua origem social. Dois investigadores portugueses, especializados em Sociologia da Educação, constataram a selecção - ao arrepio da legislação existente e da própria Constituição - de alunos com base na análise do percurso escolar.

Os estudiosos apontam a existência de estabelecimentos de ensino muito próximos um do outro, mas com populações estudantis muito distintas, fruto de uma selecção que tanto dá origem a "nichos de excelência" como a "guetos de exclusão". Segundo afirmam, o comportamento "pouco democrático" de estabelecimentos de ensino público - que origina grandes assimetrias na rede de ensino - engloba, também, a constituição de turmas com base na diferenciação social e aproveitamento escolar.

Dois investigadores do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) estudaram as desigualdades na educação e o seu reflexo no insucesso escolar. E chegaram à conclusão - fruto da investigação feita em escolas básicas e secundárias - que a escolha dos estabelecimentos de ensino é, cada vez mais, objecto de lutas e pressões sociais.

Pedro Abrantes visitou cinco estabelecimentos de ensino (três escolas públicas dos 2.º e 3.º ciclos e dois colégios privados) situados próximos uns dos outros, em Lisboa. E constatou as injustiças existentes no processo de selecção dos alunos na ocasião das matrículas. "Escolas situadas no mesmo bairro têm públicos claramente contrastantes. Numa, cerca de 50% dos alunos apresentam elevadas taxas de insucesso, e na outra, quase ao lado, esse número fica-se pelos 2%", realçou.

No estudo elaborado (ver infografia), Pedro Abrantes verificou que numa das escolas (frequentada basicamente por alunos de classes sociais desfavorecidas), 50% dos alunos tinham sido recusados noutro estabelecimento, normalmente aquele preferido pelas classes sociais média ou alta.

O investigador - que participa na avaliação externa de escolas - afirma que as estratégias de segmentação dos alunos são nítidas. "É a crise de um sistema supostamente igual para todos, mas que cria nichos de excelência e guetos de exclusão, o que é "um risco para a escola inclusiva e integradora", sustentou.

Pedro Abrantes vai mais longe, ao realçar a própria constituição da turmas. "Em muitas escolas, numa lógica perversa, constituem-se turmas com filhos de professores, médicos e juristas e outras onde predominam alunos problemáticos. Mais grave ainda é ficarem os professores mais velhos com as turmas de excelência, cabendo aos mais novos as restantes", concluiu.



Estigmas mataram a "Oliveira"

"A Secundária Oliveira Martins, no Porto, morreu dos estigmas. Recebia, sem seleccionar, o 'refugo' das escolas da redondeza", comentou ao JN um professor que durante anos leccionou no estabelecimento de ensino. Se, para uns, foi a ausência de selecção de alunos que "matou" a "Oliveira Martins", para outros muito também contribuiu a diminuição de alunos na cidade. Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, confirmou ao JN conhecer casos de escolhas de escolas por parte dos pais e selecção de alunos por parte de escolas. "É uma questão que estamos agora a analisar, juntamente com as administrações regionais e o Ministério da Educação (ME)", revelou. Albino Almeida realçou que a legislação permite que os alunos tenham pais ou encarregados de educação consoante o que for mais favorável para garantir a matrícula em determinado estabelecimento. Questionado sobre as conclusões dos estudos aqui referidos, o ME apontou a legislação em vigor sobre matrículas e constituição de turmas. Segundo o despacho n.º 14026/2007, de 3 de Julho, "na constituição das turmas devem prevalecer critérios de natureza pedagógica definidos no projecto educativo da escola".



Saturday, December 15, 2007

Professora substituta

Com as “grandes obras públicas”, a “educação” é um dos mais velhos mitos portugueses. A quem queremos enganar?

Rui Ramos, Público, 12 de Dezembro de 2007

Não sei se é preciso ter lido The Purloined Letter
para compreender que, por vezes, a melhor
maneira de esconder uma coisa é deixá-la à
vista. É óbvio, por exemplo, que não há truque
mais efi caz para fazer um livro passar
despercebido do que colocá-lo entre outros livros. O
mesmo princípio permite-nos perceber por que é que
uma discussão pode ser um excelente meio de evitar
discutir um assunto. Parece-me que, demasiadas vezes,
é esse o caso do debate sobre a “educação” em Portugal.
Eis um tema de que se fala e discute muito. Mas perante
tanto escarcéu talvez não nos devêssemos surpreender
se um observador com a malícia de Dupin nos perguntasse
subitamente: que querem esconder? Ou até: a quem
querem enganar?
Em Portugal, a educação já despertou “paixões”, justifi
cou sempre “preocupação” e continua a sugerir as
maiores “esperanças”. Quando alguns portugueses não
sabem o que fazer a propósito disto e daquilo, é quase
certo que um deles dirá, com um suspiro, que a educação
é a “única solução”. Isto é assim há muitos anos. Com as
“grandes obras públicas”, a “educação” é um dos mais
velhos mitos portugueses. A única coisa que mudou foi
o nome: ao princípio, chamavam-lhe “instrução”. Com
obras públicas e educação, esperaram sucessivos governos,
desde o século XIX, revolucionar pacifi camente
Portugal, fazer dos portugueses cidadãos tão ilustrados
e produtivos como os ingleses, e do país uma Suíça com
mar. O computador substituiu o giz e o quadro, a locomotiva
a vapor deu lugar ao TGV, e o macadame ao alcatrão,
mas crença persistiu e os argumentos mantiveram-se.
Fontes Pereira de Melo dizia que, quando toda a gente
andasse de comboio, o país estaria salvo. Hoje, há quem
acredite que para nos salvarmos bastaria cada cidadão
tirar pelo menos um mestrado.
E para que serve todo este fervor e piedade? Talvez para
nos poupar a enfrentar certas coisas. Nos últimos 20 anos,
os governos portugueses efectuaram o maior investimento
de sempre em educação e obras públicas. Em termos
europeus e em relação aos recursos disponíveis, nenhum
outro país se terá esforçado mais. O resultado? A contínua
descida das taxas de crescimento e o empobrecimento
relativo do país desde 2000. Alguém discute isto? Não.
Discute-se se a escola pública é pior ou melhor do que a
privada e se o aeroporto deve ser na Ota ou em Alcochete.
Nalguns casos, é claro que as pessoas já nem sabem o que
dizem: veja-se o caso dos defensores da escola pública,
que desculpam os seus maus resultados, porque, aparentemente,
é muito frequentada por pobres (ou “casos
problemáticos”, como agora se diz) – sem perceberem
que estão a confessar que a milagrosa “educação”, afi nal,
não faz milagres. Hoje, para ter bons resultados escolares,
convém ser rapariga, ter uma família da classe média e
viver nos centros urbanos do litoral.
Peço aos crentes o favor de não me tratarem já como
herege. Não, não desejo viver entre uma massa de analfabetos
condenados a andar por veredas de terra batida.
Leio o seguinte num livro bastante respeitável (Que Faire?
Agenda 2007, de Nicolas Baverez): “No século XXI, o aumento
de um ano da duração média dos estudos induz
um aumento de 6 por cento da produção a longo prazo.”
Não quero discutir a hipótese. Quero discutir antes os
expedientes inspirados por essa hipótese. É que a partir
da frase citada a tendência de muitos foi para deixar de
levar a sério tanto a educação, como o crescimento da
riqueza.
A “educação”, para ser efectiva, tem de ser muito mais
do que passar certifi cados. A Finlândia, como revelou o
último relatório do PISA a semana passada, não tem apenas
muitos diplomados: entre os países da OCDE é aquele
em que os alunos têm mais conhecimentos. Quanto a
Portugal, a carta do professor aposentado Domingos Cardoso
acerca da sua experiência nos cursos de educação
e formação dá uma ideia inquietante: professores que
não conseguem ensinar e “estudantes” que não querem
estudar, todos comprometidos numa imensa fraude estatística.
Se tudo se resumisse a passar tempo na escola
e à outorga de diplomas, não teríamos problemas.
Mas talvez também não tivéssemos problemas se a
questão fosse apenas a de preparar alunos para se portarem
bem nos testes do PISA. É difícil imaginar, hoje
em dia, uma prosperidade sustentável sem uma força de
trabalho instruída, mas nenhuma façanha académica, só
por si, garante o crescimento da riqueza. Aliás, tal como
resultados modestos, em certas circunstâncias, não impedem
a prosperidade (o Luxemburgo é um dos membros
mais ricos da UE, mas a performance dos seus alunos
está abaixo da média da OCDE, e pouco acima da dos
estudantes portugueses). Isoladamente, uma educação
de qualidade transformar-nos-ia talvez em exportadores
de diplomados.
O actual debate da educação, ao fugir às questões mais
difíceis, tem dois efeitos perversos: primeiro, espalha a
crença de que para os nossos problemas existem soluções
indolores, sob a forma de
expedientes que dispensam
esforço e tempo; segundo,
alimenta guerras do alecrim
e da manjerona (como
a do público versus
privado) que impedem o
debate directo acerca daquilo
que mais importa: o
tipo de vida que queremos
(ou podemos) levar neste
país. Deve tudo continuar
centrado no endeusamento
do Estado, ou é possível um
outro modelo social, assente
na iniciativa e responsabilidade
dos cidadãos?
Enquanto não tomarmos
consciência das difi culdades de qualquer dessas vias, e
da necessidade de escolher, continuaremos a enganarnos
a nós próprios – a gritar uns com os outros, para não
termos de discutir. Historiador

Sunday, December 09, 2007

No centro da cidade, um tesouro...

António
Barreto
Retrato da
Semana
Público, 2 Dez 2007

Ainda não são aos bandos, mas há já fi guras
sinistras que voam pelo Príncipe Real, pelas
ruas da Escola Politécnica, da Alegria e do
Salitre, pelos jardins da Faculdade de Ciências
e pelo Jardim Botânico, até ao Parque
Mayer. Já há “interessados”, com muito dinheiro, que
querem “desenvolver” a área, “promover” a habitação,
abrir escritórios de luxo, criar unidades hoteleiras, centros
comerciais e zonas de lazer. Parece mesmo que
certos edifícios do Príncipe Real foram já adquiridos.
Está ali, sem dúvida, uma “janela de oportunidade”,
um “desafi o da modernidade” e uma “aposta na qualidade”.
A Lisboa competitiva ameaça passar por ali.
O CONJUNTO ESTÁ IDENTIFICADO. JÁ FOI A QUINTA
do Monte Olivete e já pertenceu aos Jesuítas. Já foi o
Noviciado da Cotovia e o Colégio dos Nobres. Já foi a
Escola Politécnica e a Faculdade de Ciências. Hoje alberga
dois museus, muitas relíquias e alguns pardieiros.
É a antiga Faculdade de Ciências, seus imóveis, anexos
e jardins, a que se acrescenta o Jardim Botânico. Inclui
alguns edifícios escolares, uns desactivados desde
o incêndio de 1978, outros depois disso. Pertence à
Universidade de Lisboa. São cerca de seis hectares no
centro da cidade. Espaço único que qualquer capital
civilizada aproveitaria e mostraria, orgulhosa, aos seus
cidadãos e ao mundo.
O INVENTÁRIO DO QUE ALI ESTÁ É IMENSO. COM A
ajuda da directora Ana Eiró e da investigadora Marta
Lourenço, pode resumir-se, por defeito, no seguinte. Os
Museus da Ciência e da História Natural, que incluem o
museu e laboratório mineralógico e geológico, o museu,
laboratório e jardim botânico e o museu e laboratório
zoológico e antropológico. O Observatório Astronómico.
A Biblioteca científi ca dos séculos XV a XIX. Os
restos das instalações escolares do século XIX, nomeadamente
as salas, laboratórios e anfi teatros da química,
da física e da matemática. O Picadeiro Real do Colégio
dos Nobres (nascido em 1766), fabuloso edifício, hoje
transformado em pavilhão de desportos. Os arquivos
históricos de várias instituições científi cas.

O CONTEÚDO É IMPRESSIONANTE. SÃO COLECÇÕES
notáveis de instrumentos científi cos e técnicos de química,
física, astronomia e matemática dos séculos XIX
e XX (mais de 10.000 peças). Arquivos históricos (mais
de 100.000 documentos). Bibliotecas científi cas dos séculos
XV a XX (25.000 livros). Mobiliário muito curioso
e interessante. Colecções de antropologia (2000 esqueletos),
de mamíferos (5000 espécies), de aves (2600),
de peixes (7000 lotes), de anfíbios e répteis (1000), de
invertebrados (30.000 lotes) e de sementes (4000 lotes).
A que se acrescentam os herbários (250.000 espécies)
dos séculos XVIII e XIX, incluindo os de Vandelli,
Brotero e Welwitsch. Ou as colecções de mineralogia,
petrologia, estratigrafi a e paleontologia (80.000 peças).
E fi nalmente o fantástico Jardim Botânico (1500 espécies),
com mais de 150 anos de existência, sobre o qual
dou a palavra ao Senhor Félix Krull, criação de Thomas
Mann, que nos diz, nos anos cinquenta, a propósito de
Lisboa: “A sua primeira visita deverá ser para o Jardim
Botânico, sobre as colinas do Oeste. Não tem igual na
Europa inteira, graças a um clima em que a fl ora tropical
prospera tanto como a da zona temperada. O jardim está
cheio de araucárias, de bambus, de papiros, de iúcas
e de todas as variedades de palmeiras. Aí verá com os
seus olhos plantas que, no fundo, já não pertencem
à actual vegetação do nosso planeta, mas a uma fl ora
mais antiga como, por exemplo, os fetos arbóreos. Vá
lá imediatamente e repare no feto arbóreo do período
carbónico. É mais do que uma pequena história cultural.
É toda a antiguidade da terra”!
A AMEAÇA DOS PROMOTORES NÃO É A ÚNICA. A OUTRA
é a da ruína e da degradação. É um verdadeiro tesouro
no meio da cidade, mais ou menos ignorado, decadente,
parcialmente abandonado, com equipamentos degradados
e espécies mal conservadas... Os efeitos desta ameaça
já se podem observar à vista desarmada. Há instalações
fechadas porque perigosas. Há paredes degradadas e soalhos
a cair. Há salas e edifícios encerrados por razões
de segurança. Muitas colecções estão fechadas por falta
de condições de preservação ou de exibição. O Jardim
Botânico tem falta absoluta de jardineiros e carência de
verbas para tratamentos
e manutenção, não havendo
sequer orçamento
sufi ciente para pagar a
rega. Degradação e abandono
são as palavras que
vêm ao espírito, apesar de
uns bandos de alunos que
visitam os locais e mau grado
alguns investigadores e
funcionários que se esforçam
por manter aquilo vivo.
A Universidade não tem
recursos para manter ou desenvolver este património. O
Governo diz, há muitos anos, que também não tem. Da
Câmara de Lisboa, além de intenções vagas, pouco se sabe.
Mas, a seu favor, nota-se a abertura de um “concurso
de ideias” até ao próximo 4 de Janeiro.
NÃO HAVERÁ, EM LISBOA OU NO PAÍS, INTELIGÊNCIA
sufi ciente para preservar e aproveitar este conjunto,
utilizando-o para os fi ns óbvios, como sejam o estudo,
a investigação e a divulgação cultural e científi ca, sem
esquecer todas as funções que pode preencher um espaço
público único? Não haverá ninguém que não se tenha
ainda deixado perverter pela cultura vigente do efémero,
da espuma virtual, do superfi cial e do divertimento? Não
haverá ninguém interessado em evitar novos incêndios,
inundações, delapidações ou promotores imobiliários?
Não haverá um ministro capaz de perceber isto? Um
Presidente da câmara? Um banco? Uma companhia de
seguros? Uma empresa? Uma fundação?
SEIS HECTARES E UM PATRIMÓNIO TÃO RICO NO CENTRO
da cidade! Numa cidade onde faltam os espaços verdes;
onde são poucos os espaços públicos organizados e acessíveis;
onde são raros os locais de repouso e convívio;
onde há poucos museus e instituições de divulgação
cultural e científi ca! Nunca saberei exactamente o que
mais leva ao desperdício e à degradação. Já pensei que
fosse a pobreza. Depois, a ignorância. Agora, acrescento
a demagogia dos novos-ricos. Sociólogo

Friday, December 07, 2007

Fuzzy Math: A Nationwide Epidemic

Fuzzy Math: A Nationwide Epidemic
By Michelle Malkin
Wednesday, November 28, 2007

Do you know what math curriculum your child is being taught? Are you worried that your third-grader hasn't learned simple multiplication yet? Have you been befuddled by educational jargon such as "spiraling," which is used to explain why your kid keeps bringing home the same insipid busywork of cutting, gluing and drawing? And are you alarmed by teachers who emphasize "self-confidence" over proficiency while their students fall further and further behind? Join the club.

Across the country, from New York City to Seattle, parents are wising up to math fads like "Everyday Math." Sounds harmless enough, right? It's cleverly marketed as a "University of Chicago" program. Impressive! Right? But then you start to sense something's not adding up when your kid starts second grade and comes home with the same kindergarten-level addition and subtraction problems -- for the second year in a row.



Valley Park Elementary School in Overland Park, Kansas, flies their U.S. flag at half-staff Septemter 13, 2007, along with other public schools across Kansas. Across America, the sight of a half-staff American flag commemorating lost soldiers is increasingly common as more states and municipalities move to honor those killed in Iraq. Picture taken September 13, 2007. To match feature FLAGS-SOLDIERS/ REUTERS/Carey Gillam (UNITED STATES)

And then your child keeps telling you that the teacher isn't really teaching anything, just handing out useless worksheets -- some of which make no sense to parents with business degrees, medical degrees and Ph.D.s specializing in econometric analysis. And then you notice that it's the University of Chicago education department, not the mathematics department, that is behind this nonsense.

And then you Google "Everyday Math" and discover that countless moms and dads just like you -- and a few brave teachers with their heads screwed on straight -- have had similarly horrifying experiences. Like the Illinois mom who found these "math" problems in the fifth-grade "Everyday Math" textbook:

A. If math were a color, it would be --, because --.

B. If it were a food, it would be --, because --.

C. If it were weather, it would be --, because --.

And then you realize your child has become a victim of "Fuzzy Math," the "New New Math," the dumbed-down, politically correct, euphemism-filled edu-folly corrupting both public and private schools nationwide.

And then you feel like the subject of Edvard Munch's "The Scream" as you take on the seemingly futile task of waking up other parents and fighting the edu-cracy to restore a rigorous curriculum in your child's classroom. New York City teacher Matthew Clavel described his frustration with "Everyday Math" in a 2003 article for City Journal:

"The curriculum's failure was undeniable: Not one of my students knew his or her times tables, and few had mastered even the most basic operations; knowledge of multiplication and division was abysmal. . . . what would you do, if you discovered that none of your fourth-graders could correctly tell you the answer to four times eight?"

But don't give up and don't give in. While New York City remains wedded to "Everyday Math" (which became the mandated standard in 2003), the state of Texas just voted before Thanksgiving to drop the University of Chicago textbooks for third-graders. School board members lambasted the math program for failing to prepare students for college. It's an important salvo in the math wars because Texas is one of the biggest markets for school textbooks. As Texas goes, so goes the nation.

Meanwhile, grass-roots groups such as Mathematically Correct (mathematicallycorrect.com) and Where's The Math? (wheresthemath.com) are alerting parents to how their children are being used as educational guinea pigs. And teachers and math professionals who haven't drunk the p.c. Kool-Aid are exposing the ruse. Nick Diaz, a Maryland educator, wrote a letter to his local paper:

"As a former math teacher in Frederick County Public Schools, I have a strong interest in the recent discussion of the problems with the math curriculum in our state and county. . . . The proponents of fuzzy math claim that the new approach provides a 'deep conceptual understanding.' Those words, however, hide the truth. Students today are not expected to master basic addition, subtraction and multiplication. These fundamental skills are necessary for a truly deep understanding of math, but fuzzy math advocates are masters at using vocabulary that sounds good to parents, but means something different to educators."

Members of the West Puget Sound Chapter of the Washington Society of Professional Engineers also stepped forward in their community:

"For 35 years, we have been subjected to a failed experiment, 'new math.' Mathematics depends on individual problem-solving ability to arrive at the correct answer. Math does not lend itself to 'fuzzy' answers. The solution is to recognize the failure of the Constructivist Curriculum as it relates to mathematics and science, eliminate it and return to the hard core basics using texts like the Singapore Math."

If Fuzzy Math were a color, it would be neon green like those Mr. Yuk labels warning children not to ingest poisonous substances. Do not swallow!

Michelle Malkin makes news and waves with a unique combination of investigative journalism and incisive commentary. She is the author of Unhinged: Exposing Liberals Gone Wild .

Be the first to read Michelle Malkin's column. Sign up today and receive Townhall.com delivered each morning to your inbox.

Tuesday, December 04, 2007

O ministério da Educação contratou duas vezes o mesmo advogado para fazer o mesmo trabalho.

Sociedade - 21-11-2007 07:19h
Advogado contratado duas vezes


O ministério da Educação contratou duas vezes o mesmo advogado para fazer o mesmo trabalho.

No primeiro contrato, o advogado João Pedroso comprometia-se a fazer um levantamento das leis sobre a Educação e ainda a elaborar um manual de direito da Educação. O trabalho deveria estar concluído até Maio de 2006, mas tal não aconteceu. Apesar de não ter sido concluído nos prazos previstos, o advogado recebeu a remuneração.

Ainda assim,o ministério fez depois com João Pedroso um novo contrato com os mesmos objectivos, mas a pagar uma remuneração muito mais elevada. Em vez dos iniciais 1500 euros por mês, João Pedroso passou a receber 20 mil euros/mês.

Perante estes factos, o ministério da Educação justifica-se dizendo que os objectivos do primeiro contrato não foram cumpridos por erro de avaliação. O secretário-geral do ministério assume as responsabilidades da tutela. Ao Rádio Clube, João da Silva Baptista diz que o ministério não soube avaliar o volume de trabalho que entregou à equipa liderada por João Pedroso da primeira vez.

Por causa do erro de avaliação, o ministério da Educação acabou por ficar sem possibilidade de exigir a João Pedroso para acabar o trabalho pelo qual foi pago e decidiu por isso pagar mais e renovar o contrato.

João Pedroso, contactado pelo Rádio Clube, recusou comentar os contratos que assinou com o ministério da Educação, remetendo todos os esclarecimentos para o Governo.

Uma notícia Rádio Clube investigada pelo jornalista Nuno Guedes.

Sunday, November 25, 2007

Eles estão doidos! Quem recusar fornecer-se de produtos industriais e quem não quiser ser igual a toda a gente está condenado

Eles estão doidos! Quem recusar fornecer-se de produtos industriais e quem não quiser ser igual a toda a gente está condenado

António Barreto, Público 25 Novembro 2007

A meia dúzia de lavradores que comercializam
directamente os seus produtos e que sobreviveram
aos centros comerciais ou às grandes
superfícies vai agora ser eliminada sumariamente.
Os proprietários de restaurantes caseiros
que sobram, e vivem no mesmo prédio em que
trabalham, preparam-se, depois da chegada da fast food,
para fechar portas e mudar de vida.
Os cozinheiros que faziam no domicílio pratos e “petiscos”,
a fi m de os vender no café ao lado e que resistiram a
toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem
rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em
casa e forneciam diariamente aos cafés e restaurantes
do bairro sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes
podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que
comercializam produtos confeccionados à sua maneira
vão ser liquidados.
A solução fi nal vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias,
os inspectores, os fi scais, a imprensa e a televisão.
Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer
funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores
tão generosamente distribuídos pelo país, quem
não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-
se de produtos e matérias-primas industriais e quem
não quer ser igual a toda a gente está condenado.
Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm
estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas
europeias elaboradas pelos mais qualifi cados cientistas
do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela
carismática do ministro da Economia e da Inovação,
Manuel Pinho; e agem através pessoal da ASAE, a organização
mais falada e odiada do país, mas certamente a
mais amada pelas multinacionais da gordura, pelo cartel
da ração e pelos impérios do açúcar.
Em frente à faculdade onde dou aulas, há dois ou três
cafés onde os estudantes, nos intervalos, bebem uns
copos, conversam, namoram e jogam às cartas ou ao
dominó. Acabou! É proibido jogar!
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber
café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes
e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos
de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas-de-berlim ou
pastéis de nata que não sejam industriais e embalados?
Proibido. Nas feiras e nos mercados, tanto em Lisboa e
Porto, como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos
zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias
semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas,
queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por
uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira
produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas
e ovos? Acabou. É proibido.
Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal?
Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o
azeite e o vinagre é proibido. Tem de ser garrafas especialmente
preparadas.
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta,
azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou.
Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os
miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
Ir a casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa
e umas fatias de fi ambre para servir uma refeição ligeira
a um cliente apressado? Proibido.
Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes
caseiros é proibido. Só industriais.
É proibido ter pão congelado para uma emergência:
só em arcas especiais e com fornos de descongelação
especiais, aliás caríssimos.
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros
feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira
que faz isto há 30 anos? Proibido.
As regras, cujo não cumprimento leva a multas pesadas
e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que
centenas de páginas não chegam para as descrever.
Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de
vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola e
vinho tinto.
Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente
para cada género.
Não pode haver cruzamento de circuitos e de géneros:
não se pode cortar cebola na mesma mesa em que se
fazem tostas mistas.
No frigorífi co, tem de
haver sempre uma caixa
com uma etiqueta “produto
não válido”, mesmo
que vazia.
Cada vez que se corta
uma fatia de fi ambre ou
de queijo para uma sanduíche,
tem de se colar uma
etiqueta e inscrever a data
e a hora dessa operação.
Não se pode guardar pão para, ao fi m de vários dias,
fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou
croquetes? Proibido.
Flores naturais nas mesas ou no balcão? Proibido. Têm
de ser de plástico, papel ou tecido.
Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fi -
zeram? Proibido. As torneiras nas cozinhas devem ser de
abrir ao pé, ao cotovelo ou com célula fotoeléctrica.
As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas
duas vezes por dia e devidamente registadas.
As temperaturas dos frigorífi cos e das arcas têm de ser
medidas três vezes por dia, registadas em folhas especiais
e assinadas pelo funcionário certifi cado.
Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou
dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim,
pode ser. Desde que seja com facas de cores diferentes,
em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o
cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a
hora do corte.
O dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-
se aos mercados e leva o seu próprio carro para
transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns ovos?
Proibido. Tem de ser em carros refrigerados.
Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger
a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para
apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E
não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm,
com estas regras, fi scalizar e ordenar as nossas casas.
Para nosso bem, pois claro. Sociólogo

Saturday, November 24, 2007

Concern at pupil data microchips

Last Updated: Friday, 23 November 2007, 18:36 GMT


Concern at pupil data microchips
Pupils
The school says the microchip is not a tracking device
A secondary school in Doncaster has been trying out a scheme where pupils' records are stored on a microchip embedded in their school uniform.

The device enables teachers to call up information about pupils, such as their attainment, as they enter a classroom.

Critics fear it could be a dangerous road to tread after the government lost personal details of 25 million people stored on computer discs this week.

The school's head teacher believes it is a useful tool for his staff.

The scheme sees a child's academic records stored on radio-frequency identification (RFID) chips woven into the badges on children's school jumpers.

It was devised by a teacher at Doncaster's Hungerhill School.

The chips send out a radio signal which enables their movements to be monitored as they pass scanners.

I would have hoped that schools could put procedures in place to keep track of kids without micro-chipping them like they are cars on a race track
Margaret Morrissey, National Confederation of Parent Teacher Associations
Ten pupils at the school have already been used in a pilot project.

Other institutions are now said to be trying out the technology.

But Margaret Morrissey from the National Confederation of Parent Teacher Associations said many parents would be concerned, especially after the government's loss of 25 million Child Benefit records.

She said: "We are going down a dangerous road to do something that we have managed to do for years without these microchips.

"I have a lot of questions about what the benefits are going to be.

"I would have hoped that schools could put procedures in place to keep track of kids without micro chipping them like they are cars on a race track."

Civil liberties

Hungerhill's head teacher, Graham Wakeling, told parents in a letter that the micro-chip enabled students to be automatically registered as they entered the classroom.

Teachers with a handheld computer could access information about such things as their national curriculum levels, target grades and curriculum.

He stressed: "it is not a tracking device and cannot be used outside the school classroom".

The Department for Children, Schools and Families (DCSF) is keen to promote the use of electronic registration in schools because of its benefits in efficiently monitoring pupils' attendance.

But a DCSF spokesman said: "When we talk about electronic registration we mean teachers using networked computers to log attendance on a schools database this helps with safety, security and reducing truancy.

"This does not mean schools logging every detail of every pupil via covert means."

Contact database

But the department said it was confident it had "very robust procedures" to protect personal data held within the department.

There is also concern about a new government database called ContactPoint, which will contain children's names and addresses and whether they are in contact with any social services.

It was recommended by the inquiry into the death of Victoria Climbie and is due to start operating next year.

"Given the obvious importance of ensuring that ContactPoint has extremely robust security measures in place, [Children's Secretary] Ed Balls ... asked for an independent assessment of its security procedures.

"We will announce who will conduct that assessment next week," the spokesman said.

New A-levels face close scrutiny

ast Updated: Friday, 23 November 2007, 16:37 GMT



New A-levels face close scrutiny
exam candidate
A-level candidates face tougher questions from September 2008
England's exams watchdog is sending consultants in to exam board meetings to check that new A-levels are being made sufficiently challenging.

It is the first such intervention by the Qualifications and Curriculum Authority (QCA), set up 10 years ago.

Its board's minutes say it is taking a more active role in the setting of A-level and GCSE exam papers.

The government has recently decided to split up the QCA, to make its regulatory arm independent.

The QCA's director of regulation and standards, Isabel Nisbet, raised the issue at the board meeting in September.

'Significant risk'

Minutes of the meeting, just published, say the aim was "to ensure that papers are of high quality, and to ensure that future GCE [A-level] papers have fewer structured questions, requiring more extended responses".

There should be a limited investigation, confined to "very small number of new A-level specifications, involving observation by a QCA consultant".

These consultants would observe what went on before the finalising of question papers and marks schemes.

The minutes add: "The board emphasised that the QCA should exercise its authority to intervene where there is believed to be significant risk to the standard of question papers and in the start up of new qualifications."

'Widespread concern'

From next year A-levels are going to be reformed to make them more stretching, as universities say it is hard to distinguish between all the applicants who now achieve good A-level grades.

The government has agreed with the QCA that all questions should be more open-ended, requiring more thoughtful, detailed answers.

In addition, a new A* grade will recognise students who score 90% or more.

The Department for Children, Schools and Families said the board minutes simply discussed on-going quality assurance processes by the QCA "which is their job - and has been for the last 10 years".

But Shadow Schools Minister Nick Gibb said the QCA's intervention "underlines widespread concern about the failure of the government to police exam standards".

He said: "It reinforces the need for there to be greater rigour in the system.

"The fact that half of school leavers are failing to achieve five good GCSEs including English and maths emphasises the need for urgent improvement."

Friday, November 23, 2007

Prémio Nacional de Professores Arsélio Martins

Prémio Nacional de Professores Arsélio Martins
21.11.2007
"Quando perco um aluno é uma desgraça completa"

Quando chegou a Vialonga, em 1994, Armandina Soares lembra-se de ter encontrado uma escola "pobre, violenta, em degradação completa". A notícia de colocação naquela escola, numa zona problemática de Vila Franca de Xira, era para muitos professores "uma desgraça", tal a fama. "Poucos lá queriam continuar, mas eu quis."

Lançou mãos à obra para mudar a imagem e as condições de uma escola que tem miúdos de famílias desestruturadas, sem condições económicas ou que mal falam português. Candidatou-se à direcção em 1998 e é à frente do conselho executivo que se tem desdobrado em projectos.
Com persistência e determinação, conseguiu estabilizar o corpo docente e hoje diz que "é difícil encontrar um professor que não se envolva na escola". "Cá dentro não há desmotivação."
Foram estes quase dez anos à frente do Agrupamento de Escolas da Vialonga, com mais de dois mil alunos, que lhe valeram a entrega do Prémio Liderança. Para Nuno Santos, vice-presidente do conselho executivo e um dos principais promotores da sua candidatura, o galardão serve que nem uma luva: "Mesmo com todas as dificuldades, nunca desiste. Insiste junto das pessoas, da sociedade civil, do ministério [da Educação]...."
Um dos últimos projectos ilustra bem a sua determinação. Depois de ter criado uma pequena orquestra de violinos numa das escolas do 1.º ciclo, achou que a iniciativa poderia ser mais ambiciosa e alargou-a a mais 60 miúdos, juntando violetas, violoncelos e contrabaixo. "Todos achámos que era impossível arranjar dinheiro para comprar os instrumentos", diz Nuno Santos. Mas não foi e a ideia agora é alargar aos metais.
À persistência desta professora de 64 anos, nascida no Porto, junta-se a capacidade de trabalho que chega a exasperar os colegas. Num dia normal de trabalho, entra na escola às nove e sai às 19h. E ao fim de 45 anos de actividade, continua a dizer que chega ao fim do dia "tão folgada" como quando o iniciou. "Funciono a um ritmo vertiginoso", diz a professora de ar franzino, garantindo que ainda lhe sobra tempo "para ler, estar com a família e com os netos".
Com idade e tempo de serviço mais do que suficiente para se reformar, esta não é sequer uma hipótese em cima da mesa. "Se passasse à condição de senhora reformada o mais provável era gerar-se um desacato familiar." Será na Vialonga e ainda à frente do conselho executivo, onde se sente mais "útil", que deverá acabar a carreira.
A escola passou a ser um local seguro, o abandono caiu para níveis residuais e o insucesso é baixo, assegura. De resto, e apesar de algum nível de frustração por tudo o que fica por resolver, as recompensas vão surgindo. "Hoje de manhã fiquei satisfeita porque uma menina de 15 anos que estava em risco de abandono voltou à escola. Vivemos destas pequenas vitórias. Por outro lado, a dimensão do problema é tão grande que o que fazemos aqui é uma gota no oceano."
No pátio e nos corredores das escolas não há miúdo que não cumprimente a directora. Faz questão de ser ela própria a conversar com quem se porta pior ou estuda menos. Tem um jeito natural que se tornou evidente desde os tempos em que era aluna da escola primária e levava os colegas com mais dificuldades para sua casa para os ensinar. "A professora Armandina é fixe mas às vezes é um bocado durona. Graças a Deus nunca ralhou comigo", diz Vanda, de 14 anos.
Quanto ao prémio, admite que é agradável ver o trabalho reconhecido mas acredita sobretudo na importância simbólica da distinção. "Estas pessoas precisam de chamadas de atenção que melhorem a sua auto-estima. Geralmente só se fala desta comunidade para dizer mal. Para os pais e para os alunos, ter sido reconhecida como uma pessoa
de mérito é algo que também é deles. Viram na televisão e assumem-no como uma vitória pessoal." Isabel Leiria
a Entre uma aula e outra, Paula Canha aproveita para sair da escola, pega num par de botas impermeáveis e sai na carrinha por um caminho de terra até uma pequena ribeira. Quase a chegar, um pássaro desperta-lhe a atenção. Pára o carro e espreita por uns binóculos para confirmar a espécie.
Depois, já com os pés dentro de água, apanha pedaços de algas que põe dentro de uma lata. Volta ao carro para ir buscar um microscópio de bolso - lá dentro estão também guias de espécies e instrumentos de orientação.
"Neste momento estamos a dar a reprodução sexuada. Eles [os alunos] não têm ideia que as algas também podem reproduzir-se sexualmente. Faço questão que vejam ao vivo como as células se fundem, dão origem a um ovo e daí surge uma alga nova", explica com entusiasmo a professora de Biologia e Geologia da Escola Secundária Dr. Manuel Candeias Gonçalves, em Odemira.
Idas às universidades, saídas durante as aulas até ao rio Mira, que fica do outro lado do quartel dos bombeiros, passeios até à serra para recolher plantas em vias de extinção e tentar garantir a sua reprodução, recolha de ninhos, cadáveres de animais que morrem à beira da estrada e que são levados para a escola para serem reconstituídos os esqueletos - muitos sabem das experiências da professora e avisam "quando encontram qualquer coisa mais estranha".
Estas são algumas das actividades desenvolvidas dentro e fora da escola e que fazem de Paula Canha "uma professora especial", diz Fernando Almeida, vice-presidente do conselho executivo. "Quando vimos que existia este concurso, pensámos logo: nós temos uma pessoa para isto", conta. "Não é porque goste de se evidenciar. É uma pessoa muito discreta e simples. Mas é reconhecida porque o seu trabalho é excelente."
A criatividade na sala de aula, a dinamização de inúmeros projectos com alunos, alguns premiados a nível internacional, e o trabalho à frente do clube de ciências da escola acabaram por resultar na atribuição do Prémio Inovação. "Estou sempre a pensar noutras maneiras de ensinar, sobretudo quando as matérias são mais "intragáveis". É como cozinhar nabos cozidos de forma a que consigam comê-los e que não saibam tão mal."
Da página da disciplina na Internet, com ligações a sites relacionados com os temas, documentários e exercícios, às experiências em laboratório e fora de aulas, passando pela colaboração com universidades e empresas locais são muitas as estratégias que utiliza para cativar os miúdos. E com alguma hão-de "atinar", confia.
Os alunos retribuem com igual empenho e dedicam feriados a saídas de campo e fins-de-semana em acampamentos improvisados dentro da escola a trabalhar nos projectos.
"É incansável a tirar dúvidas." "Contagia-nos com o entusiasmo com que dá as aulas." "É superboa professora e uma grande amiga. Sabemos que mais tarde podemos contar com ela." "Tudo isto não a impede de entregar os testes corrigidos nos dias a seguir. Porque é extremamente profissional e sabe organizar-se. Tem três filhos, uma casa, os viveiros [de aquacultura]...", descreve Samuel. Os alunos do clube de ciências não poupam elogios a Paula Canha, esta bióloga de 43 anos que só mais tarde percebeu que ser professora era a sua vocação. "Houve uma altura em que tive de optar entre dar aulas e continuar no projecto de aquacultura [que lançou em Vila Nova de Milfontes]. Não consegui deixar a escola e percebi que me tinha enganado na profissão... O ambiente não tem nada a ver com o dos negócios. É puro. Os miúdos são muito espontâneos, dizem o que lhes vai na alma. E é um trabalho que não é rotineiro." I.L.
a O contrário de estar out é estar in. E Teresa Pinto de Almeida faz por estar in. "Ninguém quer estar out, nas margens da invisibilidade. O professor, se quer estar próximo dos alunos, tem de estar sempre in." Tem de estar in para, no meio de uma aula onde ele está sempre proibido, anunciar que naquele dia há um exercício para fazer com telemóvel.
Aos 50 anos, Teresa Pinto de Almeida, professora de Inglês há 16 na Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto, viu o Ministério da Educação entregar-lhe o Prémio Carreira. Ficou orgulhosa, claro, mas quis dedicar a distinção "a todos os professores que, diariamente, dão o seu melhor pelos alunos". "Fiquei sobretudo contente por entender que este é o reconhecimento e valorização da actividade do professor. Este prémio não é meu, dedico-o à classe."
Foi por "circunstâncias várias", e ao arrepio da tradição de família, que Teresa Pinto de Almeida se inscreveu num curso de Filologia Germânica. "Sempre gostei de línguas pela capacidade que elas têm de desenvolver as competências interculturais." Hoje é isso que põe em prática nas aulas. "Uma língua estrangeira é um espaço privilegiado para promover a interculturalidade e para preparar os alunos para o exercício da cidadania."
E se há 28 anos, quando começou a carreira numa escola de Vila do Conde, o ensino era mais "elitista", hoje "a diversidade de públicos obriga a que as aulas sejam preparadas com base numa diferenciação pedagógica", diz. "Hoje é muito mais complexo ser professor."
Antes de tudo, o professor é "um organizador de aprendizagens" mas, porque a sociedade "exige cada vez mais à escola", tem também de ser "mobilizador dos alunos em torno da realização de projectos que eles vêem como importantes para a sua vida". E tem ainda de ser "um amigo". É por tudo isto que as suas aulas são pensadas ao pormenor. "Está provado que o tempo de atenção do aluno numa sessão expositiva é muito reduzido, pelo que as aulas têm de ser muito dinâmicas", explica. As dela são mais ou menos assim: tenta sempre abordar "temas de actualidade", usa as novas tecnologias, leva à sala native speakers (uma turma do 8.º ano entrevistou o treinador de futebol Bobby Robson), alterna as actividades de reading, listening, speaking - reserva sempre uma parte "para a apresentação de trabalhos" porque, insiste, assim prepara os alunos "para o exercício da cidadania participativa".
E porquê o Prémio Carreira? O currículo fala por Teresa Pinto de Almeida: em 2000 terminou o mestrado em Estudos Anglo-Americanos; é autora de manuais escolares (também para Angola) e dos programas da disciplina (também para São Tomé e Príncipe); orienta a formação inicial e contínua de professores. "Todas estas actividades possibilitaram-me experiências privilegiadas. Contactei com muitos professores, com as mais variadas idiossincrasias, e aprendi com todos eles."
Carla Duarte, presidente do conselho executivo, que marcou para esta tarde uma sessão de homenagem a Teresa Pinto de Almeida, diz que, por tudo o que fez pelos alunos e pela escola, o nome dela "foi imediatamente consensual" para apresentar uma candidatura ao concurso nacional de professores. A aposta foi ganha, já se viu. "Ficámos muito satisfeitos com o prémio porque é também uma forma de dar visibilidade à escola e ao seu projecto educativo." S.S.C.
a Será enfado? "Com esta coisa quase deixei de ter tempo para o que gosto..." Modéstia? "Isto é circo", diz, referindo-se aos autocolantes que espalharam a sua cara por tudo o que é parede da escola - "Estamos muito contentes!". Ironia? "Se calhar ganhei porque o júri reconheceu a minha tralha consolidada."
Talvez uma soma disto tudo ou nada disto. Há uma verdade e é esta: a vida de Arsélio Martins, 59 anos, quase deixou de lhe pertencer desde que foi anunciado como vencedor da primeira edição do Prémio Nacional de Professores. Não é que ter jornalistas à perna durante uma semana o aborreça; só que ele tem cada vez menos tempo. "E o que eu mais preciso enquanto professor é de tempo", explica, depois de uma aula de 90 minutos do 10.º B da Escola Secundária José Estêvão, em Aveiro.
A escola está "muito contente", já percebemos. Ele, professor de Matemática há 35 anos, está sobretudo "honrado" por ter sido distinguido no seio da escola de José Pereira Tavares (1887-1983), professor e reitor do então Liceu de Aveiro. "Ao pé deste tipo sinto-me um nabo." Não há quem confirme esta informação. Funcionária de olhos verdes escondidos atrás de uns óculos: "O professor Arsélio é espectacular. É um homem pequeno mas uma grande pessoa." Ana Santos, aluna do 10.º B: "É diferente de todos os professores que já tive. Consegue tornar a Matemática mais simples e explica que ela está em tudo o que fazemos." Maria da Luz, professora de Matemática: "Não desiste enquanto não faz os alunos perceber o que ele está a explicar." Alcino Carvalho, presidente do conselho executivo: "Não se esgota na faceta de professor."
E agora, professor Arsélio? "Eu sou basicamente um produto da educação. Sou filho de camponeses de Santo André, Vagos, fui criado por uma irmã, quis ser padre mas a minha família não deixou, tentei ser marinheiro porque achava que era a melhor maneira de ser poeta." Não sabe se foi por acaso que foi parar a um curso de Matemática Pura. "Não era bom nem mau aluno, mas não houve nenhuma paixão assolapada."
Com verdadeira paixão fala da sua intervenção cívica. Foi dirigente associativo, envolveu-se na política (é deputado municipal pelo Bloco de Esquerda), tem um blogue (aveiro.blogspot.com/). No campo da educação, foi presidente do conselho executivo da José Estêvão, orientou estágios, dirigiu o Centro de Formação de Escolas de Aveiro, foi co-autor dos programas da disciplina, fundou o Sindicato dos Professores do Norte.
Na sala de aula - "a parte mais difícil, a relação directa com os alunos, mas também a que mais me realiza" - o que mais lhe interessa é "não perder nenhum aluno". "Quando perco um é uma desgraça completa", diz. E o segredo, se é que é segredo, é "arranjar estratégias que possam ir ao encontro das necessidades de cada um".
Defende que a melhor forma de potenciar o sucesso numa disciplina como a Matemática é permitir que os alunos tenham o mesmo professor ao longo de um ciclo de estudos - "eu tenho de ter persistência, respiração e tempo". Não dá "nada em papel aos alunos, para eles se habituarem a tirar notas", constrói com as próprias mãos sólidos geométricos para mostrar aos estudantes, maneja com destreza o quadro interactivo - "uma óptima ferramenta". "Sou um professor clássico que foi incorporando tudo o que há de moderno." Mas não é um professor modelo. "Ninguém deve imitar-me. Meti muita água. Mas faço o que gosto e melhor do que isso não há no mercado." Sandra Silva Costa

How Madison Avenue Is Wasting Millions on a Deserted Second Life

WIRED MAGAZINE: ISSUE 15.08

How Madison Avenue Is Wasting Millions on a Deserted Second Life

Frank Rose Email 07.24.07 | 2:00 AM
Illustration by Eddie Guy

For months, Michael Donnelly had been hearing all about the fantastic opportunities in Second Life.

As worldwide head of interactive marketing at Coca-Cola, Donnelly was fascinated by its commercial potential, the way its users could wander through a computer-generated 3-D environment that mimics the mundane world of the flesh. So one day last fall, he downloaded the Second Life software, created an avatar, and set off in search of other brands like his own. American Apparel, Reebok, Scion — the big ones were easy to find, yet something felt wrong: "There was nobody else around." He teleported over to the Aloft Hotel, a virtual prototype for a real-world chain being developed by the owners of the W. It was deserted, almost creepy. "I felt like I was in The Shining."

Yet Donnelly decided to put money into Second Life anyway. He's no digital naïf: When he joined Coke last summer, the company was being ridiculed for its huffy response to a spate of Web videos showing the soda geysers that erupt when you drop Mentos into Diet Coke. Within weeks, Donnelly had Coke and Mentos sponsoring a contest on Google Video that's gotten more than 5.6 million views. But Second Life was different. "Many places you go, there's still nobody there," he concedes. That's certainly the case with Coke's Virtual Thirst pavilion, where you can long linger without encountering another avatar. "But my job is to invest in things that have never been done before. So Second Life was an obvious decision."

As with Donnelly and Coca-Cola, so with David Stern and the National Basketball Association. Stern, who's been NBA commissioner since 1984, was introduced to Second Life in July 2006, at the annual media and technology retreat hosted by New York investment banker Herbert Allen in Sun Valley, Idaho. Second Life's creator, Philip Rosedale, was one of the presenters, as was Chad Hurley, cofounder of YouTube, another company Stern had never heard of. "My initial impression was, 'Don't people have better things to do with their lives?' Then I said, 'Stupid! You're not the audience.'"

Stern left Sun Valley convinced he'd seen the future, and he was about half right. YouTube has become a powerful tool for pro basketball. The site's NBA channel, launched in February, has already garnered some 14,000 subscribers; users have posted more than 60,000 NBA videos, which have been viewed 23 million times. But over at Second Life, where an elaborate NBA island went up in May, the action has been a bit slower. "I think we've had 1,200 visitors," Stern reports. "People tell us that's very, very good. But I can't say we have very precise expectations. We just want to be there."

Coke and the NBA are hardly alone. Adrift in the uncharted sea that is Web 2.0 — YouTube, MySpace, social networking, user-generated content, virtual worlds — corporate marketers look at Second Life and see something to grab onto. At least 50 major companies have ventured into the virtual world to date, spending millions in the process. IBM has created a massive complex of adjoining islands dedicated to recruitment, employee training, and in-world business meetings. Coldwell Banker has opened a virtual real estate office. Brands like Adidas, H&R Block, and Sears have set up shop. CNET and Reuters have opened virtual bureaus there. It's as if the moon suddenly had oxygen. Nobody wants to miss out.

Ever since BusinessWeek ran a breathless cover story titled "My Virtual Life" more than a year ago, reporters have been heralding Second Life as the here-and-now incarnation of the fictional Metaverse that Neal Stephenson conjured up 15 years ago in Snow Crash. (Wired created a 12-page "Travel Guide" last fall.) Unfortunately, the reality doesn't justify the excitement.

Second Life partisans claim meteoric growth, with the number of "residents," or avatars created, surpassing 7 million in June. There's no question that more and more people are trying Second Life, but that figure turns out to be wildly misleading. For starters, many people make more than one avatar. According to Linden Lab, the company behind Second Life, the number of avatars created by distinct individuals was closer to 4 million. Of those, only about 1 million had logged on in the previous 30 days (the standard measure of Internet traffic), and barely a third of that total had bothered to drop by in the previous week. Most of those who did were from Europe or Asia, leaving a little more than 100,000 Americans per week to be targeted by US marketers.

Then there's the question of what people do when they get there. Once you put in several hours flailing around learning how to function in Second Life, there isn't much to do. That may explain why more than 85 percent of the avatars created have been abandoned. Linden's in-world traffic tally, which factors in both the number of visitors and time spent, shows that the big draws for those who do return are free money and kinky sex. On a random day in June, the most popular location was Money Island (where Linden dollars, the official currency, are given away gratis), with a score of 136,000. Sexy Beach, one of several regions that offer virtual sex shops, dancing, and no-strings hookups, came in at 133,000. The Sears store on IBM's Innovation Island had a traffic score of 281; Coke's Virtual Thirst pavilion, a mere 27. And even when corporate destinations actually draw people, the PR can be less than ideal. Last winter, CNET's in-world correspondent was conducting a live interview with Anshe Chung, an avatar said to have earned more than $1 million on virtual real estate deals, when Chung was assaulted by flying penises in a griefer attack.

One of the things you never see in Second Life is a genuine crowd — largely because the technology makes it impossible. In Stephenson's Metaverse, corporations established their presence along a bustling, almost infinitely long street that residents could cruise at will. Second Life is different. Created by an underfunded startup using a physics engine that's now years out of date, Second Life is made up of thousands of disconnected "regions" (read: processors), most of which remain invisible unless you explicitly search for them by name. Residents can reach these places only by teleporting into the void. And even the popular islands are never crowded, because each processor on Linden Lab's servers can handle a maximum of only 70 avatars at a time; more than that and the service slows to a crawl, some avatars disappear, or the island simply vanishes. "It's really the software's fault," says Andrew Meadows, Linden Lab's senior developer. "Way back when, we used to say, 'This is not going to scale.'"

Blank new world: Desolate corporate headquarters in second life.
Illustrations by Eddie Guy

And yet, so eager are corporate marketers to get in that a small industry has sprung up to help. Business appears to be good — very good. "We have basically not made any sales calls," says Sibley Verbeck, founder and CEO of the Electric Sheep Company, which has built in-world presences for such clients as AOL, Major League Baseball, the NBA, Nissan, Pontiac, and Sony BMG Music. "We would like to. But we can hardly keep up with the Fortune 500 companies that are contacting us."

From an obscure background in computational linguistics, Verbeck has emerged as perhaps the world's leading evangelist for Second Life business opportunities. Dressed in blue jeans and a flannel shirt, his long, dark hair flowing from beneath a wide-brimmed black hat, he looks like a diminutive New Age lumberjack. But Verbeck is also oddly charismatic, with an almost messianic belief in the potential of virtual worlds.

Electric Sheep launched with the mission of promoting Second Life by developing software to make the experience less clunky and off-putting. Bringing in big corporations was a way of generating money and adding new in-world attractions. Marketers weren't interested at first, but that changed after the May 2006 BusinessWeek story and Rosedale's appearance at Sun Valley a couple of months later. "By September, it was crazy," says Giff Constable, an investment banker who joined Electric Sheep after falling in love with Second Life. "A lot of people who missed MySpace said, 'You know what? We shouldn't let that happen again.'"

What do marketers want when they call Electric Sheep? "They don't know," Verbeck says. "Mostly it's 'We've been reading about virtual worlds — is there anything there for us?'" Almost inevitably, the answer is yes. The cost varies greatly: A company can stage an in-world speaking event for as little as $10,000, but hiring Electric Sheep or one of its competitors to create a full-time presence, with a private island and a lot of virtual construction, could run several hundred thousand dollars a year. (Linden Lab leases virtual land to cover its server costs but doesn't take a cut of what companies spend establishing their presence there.) Opt for a really elaborate build, hold frequent events to keep people coming back, and hire an employee or two to keep things running, and the budget could easily hit $500,000 a year.

Joseph Jaffe, the marketing consultant who advised Coke on its in-world presence, dismisses the notion that such efforts might not be worthwhile. "The learning is now," Jaffe says. "You are a pioneer, and with that comes first-mover advantage" — that chestnut from the Web 1.0 boom. And the paltry numbers? "This is not about reach anymore. This is about connecting. It's about establishing meaningful, impactful conversations. So when people ask, 'Why Second Life?' I ask 'Why not?'"

Jaffe logs on to show off Coke's Virtual Thirst pavilion, which was created by Millions of Us, a Bay Area company that does in-world builds. He's a close match for his avatar, Divo Dapto, a trim little figure clad in roll-up jeans and a red-on-white Virtual Thirst T-shirt. "You never know who you're going to meet," Jaffe says as Dapto soars toward the Virtual Thirst pavilion.

The Coke build is expansive, elaborate, and of course empty. But Coca-Cola has a plan. It's sponsoring a contest to create a Virtual Thirst vending machine that it hopes will become ubiquitous in Second Life, just as Coke machines are everywhere in real life. Jaffe professes to be overwhelmed by the number of entries, which he characterizes as "well north of 100."

Suddenly, another avatar materializes. "Ah, there you go," Jaffe exclaims. "Someone's just arrived! I think she's from Japan." As he speaks, Dapto starts air-typing in the weird way that Second Life avatars do, trying to chat up the new Japanese girl. She looks around, then teleports someplace else.

You might wonder what Coke is doing in such a place. "It had a lot to do with hype," admits Michael Donnelly.

Still, despite isolated reports of corporate dissatisfaction with Second Life, the influx continues. Electric Sheep claims to be turning away business. IBM has set up a virtual worlds business unit. Millions of Us, which has also built corporate presences for Intel, Microsoft, Sun, and — full disclosure — Wired, is constructing a virtual Hollywood Hills for show business companies.

What's behind this stampede is not that hard to divine. "A terror has gripped corporate America," says Joseph Plummer, chief research officer at the Advertising Research Foundation, an industry think tank. Plummer has been around Madison Avenue since the early '60s, when modern advertising techniques materialized. "The simple model they all grew up with" — the 30-second spot, delivered through the mass reach of television — "is no longer working. And there are two types of people out there: a small group that's experimenting thoughtfully, and a large group that's trying the next thing to come through the door." Second Life appeals to the latter — the ones who are afraid of missing out, who don't consider half a million dollars to be a lot of money, and who haven't figured out (or don't want to admit) that Second Life is less than the bold new frontier it appears to be.

"For people who've grown up in analog, Second Life is not that hard to understand," says Rishad Tobaccowala, CEO of Denuo, a consulting arm of the global ad giant Publicis Groupe. "I have a store in the real world; I have a store in the virtual world." In contrast, the kind of digital marketing that actually works requires a conceptual leap. Successful online marketing is targeted and specific, like direct mail — but it's direct mail in a fun house, where the recipients can easily seize control of what the mail says, where it goes next, and how it gets there. You need to know how to buy up keywords to maximize search returns, how to make the most of recommendation engines, how to use the viral potential of Web video, how to monitor what's being said in blogs and message boards, how not to blow it by trying to be deceptive. Building a corporate pavilion in Second Life doesn't require any of these things. It's simple and it's obvious.

Virtual worlds will evolve, of course. It's easy to imagine targeted in-world advertising, for example, or a 3-D version of MySpace. Although it won't comment officially, IBM is understood to be working to create a "virtual universe" by building software that will allow avatars to leap from Second Life to World of Warcraft as easily as we now move from Google to Yahoo. The Internet will eventually be full of such 3-D environments; Second Life might even be one of them. But in the meantime, it's just slurping up corporate dollars and delivering little in return.

"Companies say, 'It's an experiment' — but what are they learning?" Tobaccowala asks. "Basically, they're learning how to create an avatar and walk around in Second Life." Which is fine if that's what you want to do. Just don't expect to sell a lot of Coke.

Contributing editor Frank Rose (frank_rose@wired.com) wrote about Leslie Moonves, CEO of CBS, in issue 15.06.