Friday, August 20, 2004

Um cenário, Vasco Pulido Valente

DN, Sexta-Feira,
20 de Agosto de 2004

Pedro Santana Lopes tem Morais Sarmento e uma «central de informação» a trabalhar para o governo e para si próprio; e certamente um assessor de imprensa; e agora uma funcionária da Lux para o promover a ele em exclusivo, provavelmente no glorioso mundo que se toma por «sociedade» e se compõe de anónimos muito conhecidos por razão nenhuma. Imitando o chefe, os ministros também querem assessores. A ministra da Cultura, Maria João Bustorff, parece que arranjou três; e António Mexia também. Dizem os jornais que a ministra da Educação e o ministro da Justiça reclamam dois. O novo regime começa a mostrar aquilo que é: uma agência publicitária, como foi a Câmara de Lisboa no tempo de Santana Lopes - nunca ninguém fez tão pouco e tão mal com tanto espalhafato. Tudo isto até certo ponto se compreende. Bagão Félix congelou as «despesas de funcionamento» e só deixa investir, em geral e em condições muito especiais, uma verdadeira insignificância. Vai haver por aí muito ministério sem vintém, parado e melancólico, a matar aplicadamente moscas. Neste aperto, os governos costumam inventar a «obra» que não fizeram. Um decreto, por exemplo, sai de graça, desde que não seja aplicado. Uma inspecção pela província (a pontes, museus, por aí fora) mostra amor do povo e grande zelo, e fica pelo preço do gasóleo (ou da gasolina). Ir à «Europa» ou a enterros, «reorganizar» serviços no papel ou comungar ardentemente com o futebol (ou a arte) são truques baratíssimos e caem sempre bem. Em princípio, toda a espécie de fantochada serve, se existirem assessores de imprensa e eles conseguirem a «cobertura» da coisa: na televisão, na rádio ou nos jornais. Portugal está a caminho de se tornar uma «aldeia Potemkin», um cenário de teatro sem nada atrás. Mas, francamente, quem esperava mais?

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