A quadratura do investimento por Ruben de Carvalho
DN 26 Março 2005
Vários comentadores e analistas têm desenvolvido com crescente veemência a teoria de que um dos males essenciais da economia portuguesa, senão mesmo o principal, é a completa ausência de espírito de risco e iniciativa individual. Na última Quadratura do Círculo, por exemplo, José Pacheco Pereira proclamava o devastador contraste com os Estados Unidos, onde as grandes inovações tecnológicas e os grandes negócios se desenvolveriam não mediante investimento estatal na educação ou na investigação científica, mas sim através do empreendedor carola (ou antes, seguramente os milhões de empreendedores carolas...) que inventam coisas originalíssimas nas suas garagens, as vendem - e ficam ricos.
Ora Pacheco Pereira, desculpe, mas esta visão não tem nada que ver com a realidade.
A intervenção económica do Estado norte-americano não se faz em moldes inteiramente semelhantes ao que se poderá chamar padrões europeus, mas começa por ter uma área tentacularmente determinante que é a dos orçamentos de Defesa. O Estado americano poderá não investir directamente ou ser proprietário de equipamentos de produção industrial ou de investigação científica e tecnológica, mas é o principal cliente (quando não quantitativamente, pelo menos estrategicamente) dos mais influentes sectores.
Não é possível conceber as indústrias metalúrgica, química, electrónica, aeronáutica, automobilística, petrolífera, sem a densa rede de interesses que os ligam às aquisições e encomendas estaduais e especialmente militares. Estes gastos revelam--se, como é sabido, particularmente importantes nos sectores de tecnologias de ponta, onde não apenas suportam as estruturas de investigação mais pesadas, como constituem uma garantia de escoamento para desenvolvimentos avulsos e novas patentes.
Sem a intervenção do Estado, a economia norte-americana seria outra. Como muito bem sabem Pacheco Pereira, a Halliburton, o sr. Dick Cheney e bastantes outros...
Saturday, March 26, 2005
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