Público
Sexta-feira, 26 de Novembro de 2004
Nos últimos dias alguma comunicação social, nomeadamente a RTP, entrou em histeria por ter sido relatado por uma colega nossa, numa sessão pública no Dia Nacional contra o Tabagismo, a presença de dialdrina no fumo de cigarros de uma determinada marca. A comunicação passou despercebida aos responsáveis governamentais presentes, que só acordaram com o estrondo dos "media". Por se tratar de um caso de saúde pública, apareceram lestos a anunciar que os lotes dessas marcas de cigarros iam ser retirados do mercado! Os maços de tabaco exibem em letras garrafais que FUMAR MATA, mas só agora é que descobriram que se trata de um problema de saúde pública!
Curiosamente, houve pessoas a perguntar se deviam deixar de fumar essas marcas, como se fizesse alguma diferença o suicídio com cianeto, dialdrina ou nitrosaminas...
Durante os últimos 50 anos, foi acumulada uma enorme quantidade de provas resultantes de intensa investigação que demonstraram que o fumo do tabaco provoca bronquite crónica, efisema pulmonar, doenças do coração e cancro do pulmão. As primeiras substâncias identificadas no fumo do tabaco (em 1950) que poderiam ser a causa da sua perigosidade para o fumador foram os hidrocarbonetos aromáticos polinucleares, como o benzopireno, que se sabe causarem tumores em animais testados no laboratório. Na década de 50 identificaram-se mais oito dezenas de compostos, muitos deles cancerígenos e, em 1976, encontraram-se 48 compostos aromáticos, incluindo o dibenzofurano e benzopirenos, os terríveis compostos que o Governo receava resultarem da co-incineração e que os fumadores alojam descontraidamente nos seus pulmões.
Nos anos 60, descobriram-se no fumo do tabaco as nitrosaminas, que constituem um grupo de compostos altamente cancerígenos. À medida que os métodos físico-químicos de análise se foram desenvolvendo (em especial a cromatografia em fase gasosa e a cromatografia em fase líquida de alta eficiência) a constituição do fumo do tabaco pode ser conhecida em maior extensão e, presentemente, conhecem-se cerca de 4800 compostos, muitos deles tóxicos, muitos cancerígenos, alguns suspeitos de ser cancerígenos, alguns promotores de tumores e outros, ainda, co-cancerígenos.
Todas as tentativas para remoção do fumo do tabaco dos compostos adversos à saúde foram infrutíferas. A conclusão dos especialistas é que a única solução para eliminar os riscos de cancros e de outras doenças graves associadas ao tabaco é deixar de fumar.
Contendo o fumo do tabaco tantos compostos cancerígenos, é notável que só agora tenham descoberto que se trata de um caso de saúde pública! Quando irão retirar do mercado todas as marcas de cigarros? Muito me admira que os "media" não tenham ainda noticiado que as laranjas do Algarve contêm o E300, os limões do Minho o E330 e as águas gasosas naturais o E290, já não falando no terrível óxido de hidrogénio...
Esta história faz-me lembrar o alarme que causaria o encontro de um canivete no bolso de um criminoso armado de catana...
Carlos Corrêa
Professor Catedrático da Faculdade de Ciências do Porto
Friday, November 26, 2004
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