CARTAS AO DIRECTOR
- 20081002 Público
A oportunidade Magalhães
Num artigo de opinião publicado ontem no PÚBLICO, Santana Castilho manifesta-se preocupado pela aceitação generalizada que o Magalhães está a merecer. Eu fico mais preocupado com o tipo de argumentos que este professor do ensino superior apresenta, sobretudo quando compara com "um porco satisfeito" quem se alegra pela iniciativa Magalhães. Menos chocante, mas igualmente preocupante, é que afirme que este projecto é uma escolha de "tecnocratas deslumbrados pela tecnologia", porque, defende, primeiro é preciso "o conhecimento puro". É sempre possível argumentar que não se deve fazer uma coisa porque falta outra "mais estrutural". Mas essa fórmula de defender uma opinião é puramente retórica e só serve para legitimar uma posição conservadora e torná-la, aparentemente, lógica. Num mundo que muda à velocidade que tem sido bem evidente nas últimas semanas, é preciso agir no sentido correcto e não encontrar desculpas para se continuar parado.
Há dois anos, Portugal estava claramente dividido ao meio no acesso a computadores e Internet: metade das famílias tinham computador e banda larga, mas a outra metade estava excluída por uma barreira económica, social ou de literacia. Foi essa a razão que levou o Governo a avançar com o e-escola, porque era claro que o mercado, só por si, não estava a conseguir quebrar essa barreira. Pouco mais de um ano após o seu lançamento, o sucesso do e-escola, com mais de 250.000 portáteis entregues a professores, alunos e adultos em formação, demonstrou que Portugal era capaz de concretizar iniciativas com esta ambição. Foi isso que criou a oportunidade para o Magalhães e o e-escolinha aparecerem, numa parceria que envolve a Intel, os operadores de telecomunicações, fornecedores de software e conteúdos e um consórcio de empresas portuguesas.
O Magalhães vale mais do que dúvidas e polémicas estéreis. O Magalhães vale pelo brilho nos olhos das crianças que o recebem e vale pela oportunidade que lhes é dada de acreditar no futuro e construir algo de novo. Vale sobretudo porque coloca o computador e a Internet ao alcance de todas as crianças, e não apenas daquelas cujas famílias podem pagar os preços de mercado. E o Magalhães não surge em vez das outras coisas que faltam ao sistema de ensino; vem enquadrado no que tem sido feito para criar melhores condições nas escolas, melhorar a gestão e dar mais estabilidade aos professores. Para além do Magalhães, estão a ser investidos 400 milhões de euros em redes, equipamentos e formação de professores através do Plano Tecnológico para a Educação.
A oportunidade é clara. Com o e-escola e o e-escolinha, todos os professores e todos os alunos entre os 6 e os 18 anos passaram a ter ao seu alcance um computador com ligação à Internet. Estamos a falar de 1 milhão e meio de portugueses, 15% da população. Não há memória de um investimento desta ordem, nem há nenhum país que tenha feito nada parecido. Claro que a tecnologia, só por si, não é uma "varinha mágica" para resolver problemas, mas é um fortíssimo catalisador de mudança que ajudará à inovação pedagógica, à criação de conteúdos e à participação de muito mais portugueses na rede global. É por isso que, com o Magalhães, o que está em causa é acreditar na nova geração de portugueses e dar-lhes as oportunidades que faltaram às anteriores.
Rui Grilo
(Não se identificou mas é Coordenador Adjunto para o Plano Tecnológico)
Thursday, October 02, 2008
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