- 20080527, Público Por aquilo que eu leio e ouço, só posso concluir que a maior parte dos professores e comentadores ainda não percebeu as implicações da escolaridade obrigatória. Hoje, ao contrário de antigamente, a escola tanto é para quem quer ser doutor como para quem quer ser pastor. E não me parece que um pastor necessite de saber tanto de biologia como um médico.Por aquilo que eu leio e ouço, só posso concluir que a maior parte dos professores e comentadores ainda não percebeu as implicações da escolaridade obrigatória. Hoje, ao contrário de antigamente, a escola tanto é para quem quer ser doutor como para quem quer ser pastor. E não me parece que um pastor necessite de saber tanto de biologia como um médico. Agora o que é absolutamente imoral, criminoso e ilógico é o Estado obrigar um aluno a andar nove anos na escola, impondo-lhe, todos os anos, um programa e objectivos que sabe que ele não consegue e não tem capacidade para atingir. E qual é a consequência desta estupidez defendida por professores e comentadores? Antigamente, o problema ficava resolvido com o abandono escolar. Mas hoje, os alunos com menor capacidade, porque estão proibidos de abandonar a escola, vão reprovando todos os anos e acumulando-se nas turmas, alterando completamente o seu equilíbrio e sem qualquer vantagem para o sistema, porque as turmas ficam piores, quer a nível de comportamento, quer de conhecimentos. Ou seja, a reprovação dos alunos, sem que estes possam abandonar a escola, tem duas consequências inevitáveis para a turma onde vão ser inseridos: diminuição da qualidade do ensino e aumento dos problemas disciplinares. Com efeito, se a maioria dos alunos é repetente, o professor não pode leccionar a pensar nos dois ou três alunos que revelam algumas capacidades. Além disso, porque não se pode chumbar uma turma inteira (e ainda bem, porque, caso contrário, no ano seguinte ainda seria pior), acaba a maioria dos alunos por passar por antiguidade, mesmo tendo-se a consciência de que pouco sabem para o merecer. Quero com isto dizer que, se os alunos não reprovassem no ensino obrigatório, a qualidade de ensino melhoraria? Obviamente, porque a percentagem de bons e maus alunos por turma mantinha-se constante, uma vez que ambos sairiam do sistema ao mesmo tempo: os primeiros para a universidade, os segundos para o mercado de trabalho. Além disso, porque os alunos com mais dificuldades nunca abandonariam o seu escalão etário, os problemas disciplinares derivados da mistura, na mesma turma, de garotos de doze anos com matulões de quinze acabariam. Sem esquecer que é mais enriquecedor para qualquer pessoa ouvir, durante nove anos, coisas diferentes do que ouvir sempre a mesma coisa. Isso não significa, no entanto, que Nuno Crato também não tenha razão quando defende que nenhum aluno deveria subir de nível sem dominar os conceitos do nível anterior. Mas isso não implica, obviamente, que o aluno tenha de reprovar. A escolaridade obrigatória impõe, apenas, um novo conceito de turma. Todas as turmas deveriam ser constituídas, em princípio, por sessenta ou setenta alunos, devendo todas as disciplinas ter três níveis: iniciação/recuperação, médio e alto. Ou seja, durante a escolaridade obrigatória, os alunos deveriam passar sempre de ano, podendo, no entanto, não passar de nível. Nada obstaria, assim, a que um aluno do 9.º ano, por exemplo, frequentasse a subturma de nível III a Matemática, de nível II a Português e de nível I a Inglês. Agora o que não se compreende é que se obrigue um aluno que reprovou a três ou quatro disciplinas a repetir o mesmo programa às outras dez disciplinas em que teve aproveitamento, para mais quando o destino de muitos deles é ir para servente de pedreiro, pastor ou varredor. Ou será que os alunos ficam melhores varredores, se andarem nove anos na 1.ª classe? Santana-Maia Leonardo Ponte de Sor |
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