Tuesday, May 27, 2008

O peso do chumbo

- 20080527, Público

Por aquilo que eu leio e ouço, só posso concluir que a maior parte dos professores e comentadores ainda não percebeu as implicações da escolaridade obrigatória. Hoje, ao contrário de antigamente, a escola tanto é para quem quer ser doutor como para quem quer ser pastor. E não me parece que um pastor necessite de saber tanto de biologia como um médico.Por aquilo que eu leio e ouço, só posso concluir que a maior parte dos professores e comentadores ainda não percebeu as implicações da escolaridade obrigatória. Hoje, ao contrário de antigamente, a escola tanto é para quem quer ser doutor como para quem quer ser pastor. E não me parece que um pastor necessite de saber tanto de biologia como um médico. Agora o que é absolutamente imoral, criminoso e ilógico é o Estado obrigar um aluno a andar nove anos na escola, impondo-lhe, todos os anos, um programa e objectivos que sabe que ele não consegue e não tem capacidade para atingir.
E qual é a consequência desta estupidez defendida por professores e comentadores? Antigamente, o problema ficava resolvido com o abandono escolar. Mas hoje, os alunos com menor capacidade, porque estão proibidos de abandonar a escola, vão reprovando todos os anos e acumulando-se nas turmas, alterando completamente o seu equilíbrio e sem qualquer vantagem para o sistema, porque as turmas ficam piores, quer a nível de comportamento, quer de conhecimentos.
Ou seja, a reprovação dos alunos, sem que estes possam abandonar a escola, tem duas consequências inevitáveis para a turma onde vão ser inseridos: diminuição da qualidade do ensino e aumento dos problemas disciplinares.
Com efeito, se a maioria dos alunos é repetente, o professor não pode leccionar a pensar nos dois ou três alunos que revelam algumas capacidades. Além disso, porque não se pode chumbar uma turma inteira (e ainda bem, porque, caso contrário, no ano seguinte ainda seria pior), acaba a maioria dos alunos por passar por antiguidade, mesmo tendo-se a consciência de que pouco sabem para o merecer.
Quero com isto dizer que, se os alunos não reprovassem no ensino obrigatório, a qualidade de ensino melhoraria? Obviamente, porque a percentagem de bons e maus alunos por turma mantinha-se constante, uma vez que ambos sairiam do sistema ao mesmo tempo: os primeiros para a universidade, os segundos para o mercado de trabalho. Além disso, porque os alunos com mais dificuldades nunca abandonariam o seu escalão etário, os problemas disciplinares derivados da mistura, na mesma turma, de garotos de doze anos com matulões de quinze acabariam. Sem esquecer que é mais enriquecedor para qualquer pessoa ouvir, durante nove anos, coisas diferentes do que ouvir sempre a mesma coisa.
Isso não significa, no entanto, que Nuno Crato também não tenha razão quando defende que nenhum aluno deveria subir de nível sem dominar os conceitos do nível anterior. Mas isso não implica, obviamente, que o aluno tenha de reprovar.
A escolaridade obrigatória impõe, apenas, um novo conceito de turma. Todas as turmas deveriam ser constituídas, em princípio, por sessenta ou setenta alunos, devendo todas as disciplinas ter três níveis: iniciação/recuperação, médio e alto. Ou seja, durante a escolaridade obrigatória, os alunos deveriam passar sempre de ano, podendo, no entanto, não passar de nível. Nada obstaria, assim, a que um aluno do 9.º ano, por exemplo, frequentasse a subturma de nível III a Matemática, de nível II a Português e de nível I a Inglês.
Agora o que não se compreende é que se obrigue um aluno que reprovou a três ou quatro disciplinas a repetir o mesmo programa às outras dez disciplinas em que teve aproveitamento, para mais quando o destino de muitos deles é ir para servente de pedreiro, pastor ou varredor. Ou será que os alunos ficam melhores varredores, se andarem nove anos na 1.ª classe?
Santana-Maia Leonardo
Ponte de Sor


Psicólogos, psicologia e educação: alguns equívocos

José Morgado, Público 26 de Maio de 2008

De uns tempos a esta parte têm sido recorrentes
na opinião publicada as referências às ideias
ou saberes dos psicólogos e da psicologia sobre
as mais variadas questões, designadamente,
as que envolvem processos educativos. Estas
referências, quase sempre de teor negativo são, na minha
opinião, fruto de alguns equívocos que me proponho
abordar. Devo começar por um registo de interesses: sou
psicólogo na área da educação, com formação graduada
e pós-graduada (mestrado e doutoramento) nesta área.
Parece-me também importante sublinhar de início que,
frequentemente, sobre matérias ligadas aos processos
educativos, a comunicação social procura ouvir alguém
da psicologia sem cuidar de saber qual a área científi ca do
“opinante”, o que já me aconteceu. Por despudor deontológico
e numa falha de ética científi ca, alguns colegas,
sem a preparação adequada, não se inibem de opinar e
veiculam, naturalmente, banalidades ou incorrecções.
Seria assim como que recorrer à opinião de um dermatologista
sobre um problema de ortopedia. É certo que,
sendo também médico, não terá, obviamente, mais do que
uma opinião, sendo que se procura, creio, algum saber que
ajude a interpretar a realidade e não uma mera opinião.
Como é de calcular, esta atitude de alguns colegas
parece-me um mau serviço prestado à profi ssão
e à sua representação social e contributiva para
promover os equívocos que me proponho abordar
de forma simples e sem utilizar qualquer
critério de ordenação.
Equívoco 1 – “Não se pode contrariar as crianças.” O
adequado desenvolvimento das crianças, em qualquer
idade, exige a defi nição de regras e limites claros. Não se
trata de uma moda ou de uma opção. A criança aprende
a gerir e a respeitar essas regras e limites, bem como,
naturalmente, a lidar com a eventual frustração advinda
de ser contrariada. Sublinho pois a imprescindibilidade
de, em muitas circunstâncias, ser necessário contrariar
as crianças e isso constituir a melhor ajuda que se lhes
pode proporcionar.
Equívoco 2 – “As crianças têm sempre razão.” Não, defi nitivamente
as crianças não têm sempre razão. É bem diferente
afi rmar que haverá sempre uma razão para determinada
atitude ou comportamento de uma criança do que sustentar
que, conhecendo-se as razões, todos os comportamentos
merecem aceitação. É interessante que as crianças mesmo
pequenas sabem que, às vezes, “não têm razão” e, também
por isso, deve dizer-se que não se aceita determinado comportamento
ou atitude. Parece-me claro.
Equívoco 3 – “As crianças são sempre boazinhas.” Não
as crianças não são sempre boazinhas. Não é útil para ninguém,
a começar pela criança, a representação idealizada
dos mais pequenos. Por vezes são mauzinhos, magoamse
e torna-se, mais uma vez, necessário que percebam
claramente o que é, ou não, adequado, e isso decorre, de
novo, de regras e limites claramente defi nidos.
Equívoco 4 – “Não se pode dizer às crianças que erraram,
por que se traumatizam.” Não, o que traumatiza as
crianças, para manter o termo, apesar de pouco ajustado,
é deixar instalar a ideia de que tudo o que fazem está
certo, ou, pelo contrário, tudo o que fazem está errado. A
criança precisa de uma acção por parte do adulto que seja
reguladora do seu funcionamento e isso passa por referir
os erros, mas também por sublinhar os sucessos.
Equívoco 5 – “As crianças podem fazer o que querem,
trata-se de experiências.” Não, as crianças não podem
fazer o que querem, mesmo a título experimental. Sabemos
todos que também aprendemos experimentando e
errando, ou seja, aprende-se fazendo. Isto não tem de
todo a ver com a aceitação de que a criança pode assumir
qualquer comportamento ou atitude, porque está a experimentar.
Existem, obviamente, muitos comportamentos
que as crianças não podem ter, nem à experiência, e voltamos
à imprescindibilidade das regras e limites.
Equívoco 6 – “Não se pode castigar as crianças.” Podemos
ter todas as discussões sobre o que é um castigo,
como se administram (ou não) os castigos, a sua efi cácia,
etc. O que me parece essencial é que as crianças percebam
que os seus comportamentos adequados podem
merecer elogios ou prémios, assim como perceber que
os comportamentos inadequados podem implicar alguma
forma de sanção. Não vale a pena a retórica sobre isto, as
relações e comportamentos nas sociedades actuais estão
relativizadas face às suas consequências positivas ou negativas.
Em todo o caso parece mais efi caz reforçar o que
de bom é feito do que apenas punir o que de menos bom
é realizado pela criança.
Equívoco 7 – “A autoridade não é boa para as crianças.”
Mais uma vez, sublinho, a criança precisa de modelos
de autoridade. Não se trata de moda ou opinião
científi ca, trata-se de necessidade. A percepção dos
modelos de autoridade funciona como regulador da
actividade social das crianças. É bem conhecido o efeito
negativo da ausência na vida das crianças de modelos
de autoridade que têm ainda o importantíssimo efeito de
lhes transmitir segurança, algo de fundamental ao seu
desenvolvimento. O que nesta matéria pode, e deve, ser
discutido é forma como deve ser exercida a autoridade,
não, repito, a sua necessidade.
Mais alguns equívocos poderiam ser objecto
de refl exão, mas há que ser económico.
Queria ainda sublinhar que todos os grupos
profi ssionais estão ao abrigo de padrões
éticos e deontológicos. Esta circunstância
deveria inibir-nos de, principalmente em intervenções
públicas, tecer comentários ligeiros, valorativos
ou desvalorativos sobre outros grupos
profi ssionais. Há pouco tempo, um conhecido
advogado e opinion maker referia-se
num artigo de opinião no PÚBLICO às, cito,
“tontices dos psicólogos”. Por respeito à
identidade científi ca e profi ssional de uma
classe, eu nunca me atreveria a referir-me
aos disparates dos advogados.

Psicólogo da
Educação. Professor universitário

Tuesday, May 13, 2008

Tests 'damaging' to school system

Page last updated at 08:19 GMT, Tuesday, 13 May 2008 09:19 UK


Tests 'damaging' to school system

Pupil taking Key Stage 2
The report by MPs challenges the use of national tests

The national testing system in English schools is being misused to the detriment of children's education, says a report from a committee of MPs.

The Commons schools, children and families committee says teachers spend too much time "teaching to the test".

"The inappropriate use of national testing could lead to damaging consequences," warns the report.

Schools Minister Jim Knight welcomed MPs' recognition that the "principle of national testing is sound".

With hundreds of thousands of 11-year-olds in England taking "Sats" tests this week, the select committee report warns that the tests are being used in a way that does not benefit children or the schools system.

New type of test

"In an effort to drive up national standards, too much emphasis has been placed on a single set of tests and this has been to the detriment of some aspects of the curriculum and some students," says committee chairman Barry Sheerman.

TESTING FIGURES
Pupils in England on average take 70 national tests while at school
54,000 examiners employed in national tests
25 million test papers each year
Source: GTC

While supporting the idea of national tests, the report from MPs says that an "over-emphasis" on their results can distort how children are taught and "children's access to a balanced education is being compromised".

It also criticises the "single-level tests" which are being piloted as a possible alternative.

These tests, taken when teachers think pupils are ready to go up a level, are likely to perpetuate the drawbacks of the Sats test, such as narrowing the curriculum, suggests the report.

And it warns that the single-level tests' "one-way ratchet" system will lead to an "artificial" improvement in results, in which pupils will be "certified to have achieved a level of knowledge and understanding which they do not in truth possess".

The report calls for a reform of the school performance tables, which for primary schools are based on the national test results.

It suggests that accountability should be based on a wider range of measures, including Ofsted reports.

Diplomas

For secondary pupils, the committee adds its voice to calls for "greater clarity" about the introduction of the new Diploma qualifications.

Barry Sheerman
Barry Sheerman says too much emphasis is put on national tests

In particular, it urges the government to explain its intentions for the Diploma and other secondary school exams, such as A-levels and GCSEs.

Schools Minister Jim Knight defended the use of national tests as part of the process of assessing progress for pupils, schools and the education system.

"Along with teachers' own judgements and Ofsted reports, tests are a tool which help pupils and their parents to understand how well they are doing, help parents and teachers to understand how well their school is doing, and help the public to scrutinise the performance of the schools system.

"That's why they are here to stay. Parents don't want to go back to a world where the achievements of schools are hidden from them."

Mr Knight was asked on the Today programme on BBC Radio Four whether pupils were being put under too much stress at too early an age.

"If you don't have the tests at 11 and 14 then there's a danger that children then hit the very high stakes, high stress of GCSEs across the whole curriculum - not just English, maths and science - and the preparation that they get through sitting these Sats at 11 and 14 is in that respect good for them even though it might be a slight level of stress.

"And we would say to schools that if you can manage that to reduce the amount of pressure on pupils then that is what you should be doing."

'Disapproval'

But Christine Blower, acting general secretary of the National Union of Teachers, said the report identified the "poisonous effects of testing".

"The government now stands isolated on the future of national curriculum testing. It has steadfastly resisted the mounting evidence of the damage caused by the tests to the curriculum and children's learning," said Ms Blower.

John Dunford, leader of the ASCL head teachers' union, said that the government should now "finally take seriously this groundswell of disapproval of the current testing regime".

"The original purpose of examinations, to assess students' progress, has become confused with school accountability and the performance management of teachers," said Dr Dunford.

The heads' union calls for random sampling to monitor standards, rather than targets based on national tests.

POR ONDE ANDA A DEMOCRACIA?

POR ONDE ANDA A DEMOCRACIA?


Mário Crespo. Jornalista

Pronto! Finalmente descobrimos aquilo de que Portugal realmente precisa: uma nova frota de jactos executivos para transporte de governantes. Afinal, o que é preciso não são os 150 mil empregos que José Sócrates anda a tentar esgravatar nos desertos em que Portugal se vai transformando. Tão-pouco precisamos de leis claras que impeçam que propriedade pública transite directamente para o sector privado sem passar pela Partida no soturno jogo do Monopólio de pedintes e espoliadores em que Portugal se tornou. Não precisamos de nada disso.

Precisamos, diz-nos o Presidente da República, de trocar de jactos porque aviões executivos "assim" como aqueles que temos já não há "nem na Europa nem em África". Cavaco Silva percebe, e obviamente gosta, de aviões executivos. Foi ele, quando chefiava o seu segundo governo, quem comprou com fundos comunitários a actual frota de Falcon em que os nossos governantes se deslocam.

Voei uma vez num jacto executivo. Em 1984 andei num avião presidencial em Moçambique. Samora Machel, em cuja capital se morria à fome, tinha, também, uma paixão por jactos privados que acabaria por lhe ser fatal.

Quando morreu a bordo de um deles tinha três na sua frota. Um quadrimotor Ilyushin 62 de longo curso, versão presidencial, o malogrado Antonov-6, e um lindíssimo bimotor a jacto British Aerospace 800B, novinho em folha. Tive a sorte de ter sido nesse que voei com o então Ministro dos Estrangeiros Jaime Gama numa viagem entre Maputo e Cabora Bassa. Era uma aeronave fantástica. Um terço da cabina era uma magnífica casa de banho. O resto era de um requinte de decoração notável. Por exemplo, havia um pequeno armário onde se metia um assistente de bordo magro, muito esguio que, num prodígio de contorcionismo, fez surgir durante o voo minúsculos banquetes de tapas variadíssimas, com sandes de beluga e rolinhos de salmão fumado que deglutimos entre golinhos de Clicquot Ponsardin. Depois de nos mimar, como por magia, desaparecia no seu armário. Na altura fiz uma reportagem em que descrevi aquele luxo como "obsceno". Fiz nesse trabalho a comparação com Portugal, que estava numa craveira de desenvolvimento totalmente diferente da de Moçambique, e não tinha jactos executivos do Estado para servir governantes.

Nesta fase metade dos rendimentos dos portugueses está a ser retida por impostos. Encerram-se maternidades, escolas e serviços de urgência. O Presidente da República inaugura unidades de saúde privadas de luxo e aproveita para reiterar um insuspeitado direito de todos os portugueses a um sistema público de saúde. Numa altura destas, comprar jactos executivos é tão obsceno como o foi nos dias de Samora Machel. Este irrealismo brutalizado com que os nossos governantes eleitos afrontam a carência em que vivemos ultraja quem no seu quotidiano comuta num transporte público apinhado, pela Segunda Circular ou Camarate, para lhe ver passar por cima um jacto executivo com governantes cujo dia a dia decorre a quilómetros das suas dificuldades, entre tapas de caviar e rolinhos de salmão. Claro que há alternativas que vão desde fretar aviões das companhias nacionais até, pura e simplesmente, cingirem-se aos voos regulares. Há governantes de países em muito melhores condições que o fazem por uma questão de pudor que a classe que dirige Portugal parece não ter.

Vi o majestático François Miterrand ir sempre a Washington na Air France. Não é uma questão de soberania ter o melhor jacto executivo do Mundo. É só falta de bom senso. E não venham com a história que é mesquinhez falar disto. É de um pato-bravismo intolerável exigir ao país mais sacrifícios para que os nossos governantes andem de jacto executivo. Nós granjearíamos muito mais respeito internacional chegando a cimeiras em voos de carreira do que a bordo de um qualquer prodígio tecnológico caríssimo para o qual todo o Mundo sabe que não temos dinheiro.

Mário Crespo JN Mar4

Monday, May 05, 2008

Finlândia, Portugal ou como nunca aprendemos o essencial

Finlândia, Portugal ou como nunca aprendemos o essencial

José Manuel Fernandes - 20080505, Público

As estatísticas ajudam a perceber a realidade, mas não são a realidade. Por vezes até ajudam a distorcê-la em função de objectivos políticos de curto prazoUma leitora, professora em Setúbal, contava ontem nesta página, numa carta ao director, como era difícil lidar, no 10.º ano, com um aluno de Inglês que, desde o 5.º ano, passara sempre com negativas e nem sabia como se escreviam em inglês palavras tão simples como "mais" ou "o". O que a carta dessa professora mostrava era como uma coisa são as estatísticas, outra a realidade: as primeiras podem ser manipuladas, a segunda é o que é.
Na verdade, as estatísticas são retratos da realidade, não são a realidade. Podemos saber de cor milhares de estatísticas sobre o sistema de ensino, mas nunca entenderemos nada sem passar por uma sala de aula. Da mesma forma que podemos ter visto dezenas de reportagens e fotografias sobre obras de arte e locais maravilhosos, mas só os entenderemos quando estivermos lá, a vê-los, a senti-los. Podemos saber tudo, ou julgar que sabemos tudo sobre o Holocausto, por exemplo, mas haverá sempre, na nossa compreensão do horror, um antes e um depois de ter visitado Auschwitz, por exemplo. E se nunca tivermos entrado em Rabo de Peixe, nos Açores, dificilmente perceberemos por que há uma pobreza tão teimosa e tão difícil de erradicar.
Mais: um dos dramas dos Governos modernos é que dominam bem os números e as estatísticas, mas com frequência nada sabem sobre a vida comum dos seus concidadãos. José Pacheco Pereira contava-nos aqui, na sexta-feira, como era diferente passar, em campanha eleitoral, por um lar de idosos cujo director era "nosso amigo" ou arriscar ir distribuir comunicados para a saída de uma fábrica. Talvez valha a pena ir mais longe, e incluir no tirocínio de um candidato a deputado ou a ministro ter de acompanhar um dia a distribuição de comida pelos famintos de Lisboa num carro da Comunidade Justiça e Paz, passar umas tardes como voluntário num hospital, junto de doentes terminais, ou ir uma semana, incógnito, dar aulas numa dessas escolas problemáticas que às vezes são notícia nos telejornais e polarizam os famosos "directos" de que, ontem, aqui falava António Barreto.
A seguir olharão para as estatísticas com mais prudência, idealmente com mais humildade.

O discurso sobre as estatísticas tem surgido, nos últimos anos, quase sempre acompanhado por um discurso sobre o "milagre finlandês". De facto, basta consultarmos as estatísticas da Finlândia para corarmos de vergonha. Mas só isso.
Sobre o resto é necessário ver para além das estatísticas, especialmente quando elas se destinam a defender aquilo que desafia a intuição e a experiência portuguesa, como é o caso da defesa de que deve ser ainda mais difícil reter um aluno que não tem as competências mínimas para passar de ano, como se prepara para fazer o Ministério da Educação. Até porque se com menos "chumbos" Portugal terá melhores estatísticas de Educação, pode no final ficar com um pior sistema educativo e com cidadãos ainda pior preparados para o mundo moderno.
É por isso que vale a pena olhar para a Finlândia para perceber que os nossos problemas nunca poderão ser resolvidos com uma "receita finlandesa" pela razão simples de que quase tudo nos separa, histórica e culturalmente, da Finlândia.
Já se referiu nestas páginas o estudo do sociólogo Manuel Castells sobre a Finlândia - The Information Society and the Welfare State: The Finish Model - para concluir que nos "faltam todas, ou quase todas, as chaves do sucesso". Por muitas e variadas razões, que vão desde sermos um velho país e uma antiga potência colonial (a Finlândia só é independente há pouco mais de um século) ao facto de desconhecermos o sentido de praticar uma rigorosa ética protestante, ou de possuirmos uma velhíssima hierarquia social por contraponto com um país que nunca conheceu sequer uma nobreza nacional, ou ainda de sermos um dos países da Europa onde as crianças passam mais tempo em frente da televisão e a Finlândia o país do Mundo onde os pais dedicam mais tempo a ler histórias infantis aos seus filhos.
Por outras palavras, que as estatísticas até podem ilustrar: o nosso problema é, há séculos a esta parte, um problema de défice de "capital social", não de capital financeiro ou de capital humano. É por isso que ler Castells, mas também ler Fukuyama e Huntington, é capaz de ser mais útil do que ler, para mais de forma distorcida, todas as estatísticas de todos os estudos da OCDE. Porque em Educação, como em quase tudo o resto nas sociedades modernas, o conceito-
-chave é o de maximizar o "capital social".

Os portugueses e a política

Os portugueses e a política

André Freire - 20080505, Público

Os muito jovens são pouco informados, interessados e participativos por causa da sua posição no ciclo de vidaCom base numa sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião Portuguesa, o Presidente (PR) expressou, no discurso do 25 de Abril, preocupações sobre o (fraco) "empenhamento cívico dos cidadãos", designadamente dos jovens, e sobre o "facto de não ter havido [por parte dos agentes políticos] o necessário esforço para a credibilização da política" e para uma "política de proximidade". As preocupações basearam-se nalguns dos resultados do estudo, nomeadamente: em termos comparativos, os portugueses apresentam uma muito elevada insatisfação com o funcionamento da democracia; os jovens são os menos expostos à informação política e os que revelam mais baixos níveis de conhecimentos políticos; exceptuando o voto, os portugueses são cépticos quanto à participação política tradicional, designadamente através dos partidos; os jovens, sobretudo os dos 15-17 anos, revelam um "baixíssimo interesse" pela política; a população portuguesa em geral, mas sobretudo os mais jovens (15-17 anos) e os mais velhos (mais de 65 anos), evidencia um muito baixo envolvimento político e baixos níveis de participação social e política; etc.
Sobre estes resultados, refira-se o seguinte. Primeiro, quer o elevado grau de insatisfação perante o funcionamento da democracia, quer o baixo envolvimento e participação sociopolítica são um problema geral dos portugueses, não apenas dos jovens. Segundo, quanto ao baixo envolvimento sociopolítico é preciso, apesar de tudo e ainda que se levantem dúvidas quanto à extensão do que vou referir, matizar o pessimismo: lembremos a explosão da participação através de blogues; as gigantescas manifestações a que assistimos recentemente; o crescimento do número de petições apresentadas ao Parlamento; a grande adesão a acções de voluntariado como o "banco alimentar"; a forte mobilização cívica no último referendo; etc. Terceiro, apenas em alguns itens (conhecimentos políticos, interesse e participação) os muito jovens (15-17) se revelam especialmente pouco informados, interessados e participativos. Mas, neste caso, é talvez ainda mais necessário relativizar os dados.
As diferenças entre jovens e não jovens, em matéria de atitudes e comportamentos políticos, podem resultar de dois tipos diferentes de factores. Os "efeitos de ciclo de vida" reportam-se àquelas atitudes e comportamentos que estão ligados a determinadas fases da vida dos indivíduos e que, uma vez ultrapassadas tais etapas, desaparecem. Por exemplo, fala-se geralmente de diferenças de ciclo de vida na participação eleitoral: devido a uma menor integração na vida familiar, profissional, etc., os jovens votam geralmente menos do que os mais velhos. Porém, com o avanço da idade e o aumento da integração sociopolítica, aqueles jovens tenderão a exibir níveis de participação idênticos aos dos adultos. Mais: por via da assunção de responsabilidades, os indivíduos vão ficando mais directamente expostos à acção política (impostos, políticas de emprego, de família, de habitação, etc.), logo dão-lhe mais relevo. Portanto, se seguíssemos as diferentes coortes etárias (isto é, os segmentos da população divididos por datas de nascimento) ao longo do tempo, com o avanço deste, as diferenças entre os mais jovens e os adultos deveriam desaparecer. Pelo contrário, caso estivéssemos perante "efeitos geracionais" na participação, isto é, que caracterizam segmentos de indivíduos nascidos num mesmo período temporal e que lhes permanecem associados em todas as fases da vida, as diferenças entre coortes com o passar do tempo deveriam manter-se idênticas. Muito provavelmente, os muito jovens são especialmente pouco informados, interessados e participativos por causa da sua posição no ciclo de vida. Por isso se assemelham aos de 65 e mais anos, os quais iniciam uma fase semelhante do ciclo de vida: fim da "vida activa" e declínio progressivo das capacidades. Todavia, só estudos longitudinais, isto é, seguindo as diferentes coortes ao longo do tempo, poderão esclarecer isto com precisão.

Porque as questões levantadas pelo PR são muito importantes, nomeadamente em termos de qualidade da democracia, e a classe política (PR incluído) não lhes terá dado ainda o devido relevo, termino reflectindo sobre o que fazer (para mudar a situação)? Primeiro, é preciso credibilizar a política. Aqui poderíamos realçar a) a necessidade imperiosa de cumprir os compromissos eleitorais e b) a de reduzir a promiscuidade entre negócios privados e acção política. A realidade está bastante aquém do desejável, apesar dos repetidos alertas... Segundo, é preciso incentivar e levar a sério a participação dos cidadãos na tomada de decisões políticas, ou seja, é necessário valorizar a participação e procurar incorporar, efectivamente, as demandas no processo decisório: só assim as pessoas verão que vale a pena participar. (o estudo evidencia, aliás, um forte apoio a mecanismos de democracia directa). Não é a isso que temos assistido, quando, após a eleição directa de um líder partidário ou do bastonário de uma ordem profissional, alguns dos seus ilustres correligionários se apressam a deslegitimar os novos eleitos e, assim, a sugerir que deveriam ser eles e não "o povo" a escolhê-los. Também não é propriamente a isso que temos assistido quando se desvalorizam enormes manifestações populares ou se demoniza a acção sindical. Ou ainda quando se comprime severamente a democracia nas universidades. Pena é que não se tenha ouvido a voz do PR nestes casos... Terceiro, o cidadão constrói-se. Por isso, é necessário apostar mais na educação política dos jovens, nomeadamente insistindo mais no ensino da História e da Ciência Política, bem como na educação cívica. Finalmente, para mobilizar os cidadãos são precisas alternativas: não é a isso que se assiste quando a política (do "centrão") é reduzida à mera gestão da coisa pública. Professor de Ciência Política (ISCTE)

Friday, May 02, 2008

That Book Costs How Much?

That Book Costs How Much?


Published: April 25, 2008, NYT

College students and their families are rightly outraged about the bankrupting costs of textbooks that have nearly tripled since the 1980s, mainly because of marginally useful CD-ROMs and other supplements. A bill pending in Congress would require publishers to sell “unbundled” versions of the books — minus the pricey add-ons. Even more important, it would require publishers to reveal book prices in marketing material so that professors could choose less-expensive titles.

The bill is a good first step. But colleges and universities will need to embrace new methods of textbook development and distribution if they want to rein in runaway costs. That means using digital textbooks, which can often be presented online free of charge or in hard copies for as little as one-fifth the cost of traditional books. The digital books can also be easily customized and updated.

Right now, textbook publishers are calling the tune. They add as many bells and whistles as they can and pump out new editions as quickly as possible — as a way of making perfectly good textbooks obsolete. Not every book can be cheap. A specialized text that only a few people know how to write and that reaches a small audience will be costly by definition. But there is no reason for an introductory textbook to carry a price tag of, say, $140 in an area like economics where the information changes little from year to year.

Schools are beginning to balk at outrageous pricing. Rice University offers textbooks for some classes free online and charges a nominal fee for the printed version. A new company called Flat World Knowledge, based in Nyack, N.Y., plans to offer online textbooks free and hopes to make its profit by selling supplemental materials like study guides and hard copies printed on demand.

A study being carried out by the geographer Ronald Dorn at Arizona State University suggests that students who use free online textbooks perform as well academically as students who buy expensive copies from traditional publishers. Colleges and universities should take advantage of these new developments.

Cash-strapped students and their families need all the relief they can get.

"The NYTimes has an editorial plugging Flat World Knowledge,

"The NYTimes has an editorial plugging Flat World Knowledge, a startup that will offer college textbooks inexpensively (~$30) in print, and free as PDFs. They plan to make their profits from add-ons like podcast study guides and mobile phone flashcards. Books will be licensed under CC Attribution-Noncommercial-Share Alike. Mashups and customizations are encouraged, but the NC license is incompatible with strong copyleft licenses such as the GFDL used by Wikipedia. Other companies trying to find a workable business model for free textbooks include Ink Textbooks (revenue from online homework) and Freeload Press (revenue from ads inside the books). So far, none of these companies seems to have succeeded in building up much of a catalog of books; it seems more common for authors of free textbooks to take a DIY approach, putting PDFs on their own web pages, and sometimes arranging on-demand printing with vanity-press publishers like lulu.com. Lots and lots of web sites exist to help people find free textbooks, and CalPIRG has an active campaign pushing for affordable textbooks."

Thursday, May 01, 2008

No truth to claims that 13-year-old found NASA error

No truth to claims that 13-year-old found NASA error

  • 00:05 17 April 2008
  • NewScientist.com news service
  • David Shiga

The threat of asteroid impacts on Earth has inspired some ideas for using spacecraft to deflect them (Illustration: ESA)
The threat of asteroid impacts on Earth has inspired some ideas for using spacecraft to deflect them (Illustration: ESA)
Tools
digg thisAdd My YahooAdd Google Reader reddit submitNewsvineciteulike submit