Sunday, November 25, 2007

Eles estão doidos! Quem recusar fornecer-se de produtos industriais e quem não quiser ser igual a toda a gente está condenado

Eles estão doidos! Quem recusar fornecer-se de produtos industriais e quem não quiser ser igual a toda a gente está condenado

António Barreto, Público 25 Novembro 2007

A meia dúzia de lavradores que comercializam
directamente os seus produtos e que sobreviveram
aos centros comerciais ou às grandes
superfícies vai agora ser eliminada sumariamente.
Os proprietários de restaurantes caseiros
que sobram, e vivem no mesmo prédio em que
trabalham, preparam-se, depois da chegada da fast food,
para fechar portas e mudar de vida.
Os cozinheiros que faziam no domicílio pratos e “petiscos”,
a fi m de os vender no café ao lado e que resistiram a
toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem
rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em
casa e forneciam diariamente aos cafés e restaurantes
do bairro sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes
podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que
comercializam produtos confeccionados à sua maneira
vão ser liquidados.
A solução fi nal vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias,
os inspectores, os fi scais, a imprensa e a televisão.
Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer
funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores
tão generosamente distribuídos pelo país, quem
não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-
se de produtos e matérias-primas industriais e quem
não quer ser igual a toda a gente está condenado.
Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm
estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas
europeias elaboradas pelos mais qualifi cados cientistas
do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela
carismática do ministro da Economia e da Inovação,
Manuel Pinho; e agem através pessoal da ASAE, a organização
mais falada e odiada do país, mas certamente a
mais amada pelas multinacionais da gordura, pelo cartel
da ração e pelos impérios do açúcar.
Em frente à faculdade onde dou aulas, há dois ou três
cafés onde os estudantes, nos intervalos, bebem uns
copos, conversam, namoram e jogam às cartas ou ao
dominó. Acabou! É proibido jogar!
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber
café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes
e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos
de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas-de-berlim ou
pastéis de nata que não sejam industriais e embalados?
Proibido. Nas feiras e nos mercados, tanto em Lisboa e
Porto, como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos
zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias
semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas,
queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por
uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira
produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas
e ovos? Acabou. É proibido.
Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal?
Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o
azeite e o vinagre é proibido. Tem de ser garrafas especialmente
preparadas.
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta,
azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou.
Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os
miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
Ir a casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa
e umas fatias de fi ambre para servir uma refeição ligeira
a um cliente apressado? Proibido.
Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes
caseiros é proibido. Só industriais.
É proibido ter pão congelado para uma emergência:
só em arcas especiais e com fornos de descongelação
especiais, aliás caríssimos.
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros
feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira
que faz isto há 30 anos? Proibido.
As regras, cujo não cumprimento leva a multas pesadas
e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que
centenas de páginas não chegam para as descrever.
Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de
vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola e
vinho tinto.
Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente
para cada género.
Não pode haver cruzamento de circuitos e de géneros:
não se pode cortar cebola na mesma mesa em que se
fazem tostas mistas.
No frigorífi co, tem de
haver sempre uma caixa
com uma etiqueta “produto
não válido”, mesmo
que vazia.
Cada vez que se corta
uma fatia de fi ambre ou
de queijo para uma sanduíche,
tem de se colar uma
etiqueta e inscrever a data
e a hora dessa operação.
Não se pode guardar pão para, ao fi m de vários dias,
fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou
croquetes? Proibido.
Flores naturais nas mesas ou no balcão? Proibido. Têm
de ser de plástico, papel ou tecido.
Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fi -
zeram? Proibido. As torneiras nas cozinhas devem ser de
abrir ao pé, ao cotovelo ou com célula fotoeléctrica.
As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas
duas vezes por dia e devidamente registadas.
As temperaturas dos frigorífi cos e das arcas têm de ser
medidas três vezes por dia, registadas em folhas especiais
e assinadas pelo funcionário certifi cado.
Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou
dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim,
pode ser. Desde que seja com facas de cores diferentes,
em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o
cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a
hora do corte.
O dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-
se aos mercados e leva o seu próprio carro para
transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns ovos?
Proibido. Tem de ser em carros refrigerados.
Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger
a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para
apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E
não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm,
com estas regras, fi scalizar e ordenar as nossas casas.
Para nosso bem, pois claro. Sociólogo

Saturday, November 24, 2007

Concern at pupil data microchips

Last Updated: Friday, 23 November 2007, 18:36 GMT


Concern at pupil data microchips
Pupils
The school says the microchip is not a tracking device
A secondary school in Doncaster has been trying out a scheme where pupils' records are stored on a microchip embedded in their school uniform.

The device enables teachers to call up information about pupils, such as their attainment, as they enter a classroom.

Critics fear it could be a dangerous road to tread after the government lost personal details of 25 million people stored on computer discs this week.

The school's head teacher believes it is a useful tool for his staff.

The scheme sees a child's academic records stored on radio-frequency identification (RFID) chips woven into the badges on children's school jumpers.

It was devised by a teacher at Doncaster's Hungerhill School.

The chips send out a radio signal which enables their movements to be monitored as they pass scanners.

I would have hoped that schools could put procedures in place to keep track of kids without micro-chipping them like they are cars on a race track
Margaret Morrissey, National Confederation of Parent Teacher Associations
Ten pupils at the school have already been used in a pilot project.

Other institutions are now said to be trying out the technology.

But Margaret Morrissey from the National Confederation of Parent Teacher Associations said many parents would be concerned, especially after the government's loss of 25 million Child Benefit records.

She said: "We are going down a dangerous road to do something that we have managed to do for years without these microchips.

"I have a lot of questions about what the benefits are going to be.

"I would have hoped that schools could put procedures in place to keep track of kids without micro chipping them like they are cars on a race track."

Civil liberties

Hungerhill's head teacher, Graham Wakeling, told parents in a letter that the micro-chip enabled students to be automatically registered as they entered the classroom.

Teachers with a handheld computer could access information about such things as their national curriculum levels, target grades and curriculum.

He stressed: "it is not a tracking device and cannot be used outside the school classroom".

The Department for Children, Schools and Families (DCSF) is keen to promote the use of electronic registration in schools because of its benefits in efficiently monitoring pupils' attendance.

But a DCSF spokesman said: "When we talk about electronic registration we mean teachers using networked computers to log attendance on a schools database this helps with safety, security and reducing truancy.

"This does not mean schools logging every detail of every pupil via covert means."

Contact database

But the department said it was confident it had "very robust procedures" to protect personal data held within the department.

There is also concern about a new government database called ContactPoint, which will contain children's names and addresses and whether they are in contact with any social services.

It was recommended by the inquiry into the death of Victoria Climbie and is due to start operating next year.

"Given the obvious importance of ensuring that ContactPoint has extremely robust security measures in place, [Children's Secretary] Ed Balls ... asked for an independent assessment of its security procedures.

"We will announce who will conduct that assessment next week," the spokesman said.

New A-levels face close scrutiny

ast Updated: Friday, 23 November 2007, 16:37 GMT



New A-levels face close scrutiny
exam candidate
A-level candidates face tougher questions from September 2008
England's exams watchdog is sending consultants in to exam board meetings to check that new A-levels are being made sufficiently challenging.

It is the first such intervention by the Qualifications and Curriculum Authority (QCA), set up 10 years ago.

Its board's minutes say it is taking a more active role in the setting of A-level and GCSE exam papers.

The government has recently decided to split up the QCA, to make its regulatory arm independent.

The QCA's director of regulation and standards, Isabel Nisbet, raised the issue at the board meeting in September.

'Significant risk'

Minutes of the meeting, just published, say the aim was "to ensure that papers are of high quality, and to ensure that future GCE [A-level] papers have fewer structured questions, requiring more extended responses".

There should be a limited investigation, confined to "very small number of new A-level specifications, involving observation by a QCA consultant".

These consultants would observe what went on before the finalising of question papers and marks schemes.

The minutes add: "The board emphasised that the QCA should exercise its authority to intervene where there is believed to be significant risk to the standard of question papers and in the start up of new qualifications."

'Widespread concern'

From next year A-levels are going to be reformed to make them more stretching, as universities say it is hard to distinguish between all the applicants who now achieve good A-level grades.

The government has agreed with the QCA that all questions should be more open-ended, requiring more thoughtful, detailed answers.

In addition, a new A* grade will recognise students who score 90% or more.

The Department for Children, Schools and Families said the board minutes simply discussed on-going quality assurance processes by the QCA "which is their job - and has been for the last 10 years".

But Shadow Schools Minister Nick Gibb said the QCA's intervention "underlines widespread concern about the failure of the government to police exam standards".

He said: "It reinforces the need for there to be greater rigour in the system.

"The fact that half of school leavers are failing to achieve five good GCSEs including English and maths emphasises the need for urgent improvement."

Friday, November 23, 2007

Prémio Nacional de Professores Arsélio Martins

Prémio Nacional de Professores Arsélio Martins
21.11.2007
"Quando perco um aluno é uma desgraça completa"

Quando chegou a Vialonga, em 1994, Armandina Soares lembra-se de ter encontrado uma escola "pobre, violenta, em degradação completa". A notícia de colocação naquela escola, numa zona problemática de Vila Franca de Xira, era para muitos professores "uma desgraça", tal a fama. "Poucos lá queriam continuar, mas eu quis."

Lançou mãos à obra para mudar a imagem e as condições de uma escola que tem miúdos de famílias desestruturadas, sem condições económicas ou que mal falam português. Candidatou-se à direcção em 1998 e é à frente do conselho executivo que se tem desdobrado em projectos.
Com persistência e determinação, conseguiu estabilizar o corpo docente e hoje diz que "é difícil encontrar um professor que não se envolva na escola". "Cá dentro não há desmotivação."
Foram estes quase dez anos à frente do Agrupamento de Escolas da Vialonga, com mais de dois mil alunos, que lhe valeram a entrega do Prémio Liderança. Para Nuno Santos, vice-presidente do conselho executivo e um dos principais promotores da sua candidatura, o galardão serve que nem uma luva: "Mesmo com todas as dificuldades, nunca desiste. Insiste junto das pessoas, da sociedade civil, do ministério [da Educação]...."
Um dos últimos projectos ilustra bem a sua determinação. Depois de ter criado uma pequena orquestra de violinos numa das escolas do 1.º ciclo, achou que a iniciativa poderia ser mais ambiciosa e alargou-a a mais 60 miúdos, juntando violetas, violoncelos e contrabaixo. "Todos achámos que era impossível arranjar dinheiro para comprar os instrumentos", diz Nuno Santos. Mas não foi e a ideia agora é alargar aos metais.
À persistência desta professora de 64 anos, nascida no Porto, junta-se a capacidade de trabalho que chega a exasperar os colegas. Num dia normal de trabalho, entra na escola às nove e sai às 19h. E ao fim de 45 anos de actividade, continua a dizer que chega ao fim do dia "tão folgada" como quando o iniciou. "Funciono a um ritmo vertiginoso", diz a professora de ar franzino, garantindo que ainda lhe sobra tempo "para ler, estar com a família e com os netos".
Com idade e tempo de serviço mais do que suficiente para se reformar, esta não é sequer uma hipótese em cima da mesa. "Se passasse à condição de senhora reformada o mais provável era gerar-se um desacato familiar." Será na Vialonga e ainda à frente do conselho executivo, onde se sente mais "útil", que deverá acabar a carreira.
A escola passou a ser um local seguro, o abandono caiu para níveis residuais e o insucesso é baixo, assegura. De resto, e apesar de algum nível de frustração por tudo o que fica por resolver, as recompensas vão surgindo. "Hoje de manhã fiquei satisfeita porque uma menina de 15 anos que estava em risco de abandono voltou à escola. Vivemos destas pequenas vitórias. Por outro lado, a dimensão do problema é tão grande que o que fazemos aqui é uma gota no oceano."
No pátio e nos corredores das escolas não há miúdo que não cumprimente a directora. Faz questão de ser ela própria a conversar com quem se porta pior ou estuda menos. Tem um jeito natural que se tornou evidente desde os tempos em que era aluna da escola primária e levava os colegas com mais dificuldades para sua casa para os ensinar. "A professora Armandina é fixe mas às vezes é um bocado durona. Graças a Deus nunca ralhou comigo", diz Vanda, de 14 anos.
Quanto ao prémio, admite que é agradável ver o trabalho reconhecido mas acredita sobretudo na importância simbólica da distinção. "Estas pessoas precisam de chamadas de atenção que melhorem a sua auto-estima. Geralmente só se fala desta comunidade para dizer mal. Para os pais e para os alunos, ter sido reconhecida como uma pessoa
de mérito é algo que também é deles. Viram na televisão e assumem-no como uma vitória pessoal." Isabel Leiria
a Entre uma aula e outra, Paula Canha aproveita para sair da escola, pega num par de botas impermeáveis e sai na carrinha por um caminho de terra até uma pequena ribeira. Quase a chegar, um pássaro desperta-lhe a atenção. Pára o carro e espreita por uns binóculos para confirmar a espécie.
Depois, já com os pés dentro de água, apanha pedaços de algas que põe dentro de uma lata. Volta ao carro para ir buscar um microscópio de bolso - lá dentro estão também guias de espécies e instrumentos de orientação.
"Neste momento estamos a dar a reprodução sexuada. Eles [os alunos] não têm ideia que as algas também podem reproduzir-se sexualmente. Faço questão que vejam ao vivo como as células se fundem, dão origem a um ovo e daí surge uma alga nova", explica com entusiasmo a professora de Biologia e Geologia da Escola Secundária Dr. Manuel Candeias Gonçalves, em Odemira.
Idas às universidades, saídas durante as aulas até ao rio Mira, que fica do outro lado do quartel dos bombeiros, passeios até à serra para recolher plantas em vias de extinção e tentar garantir a sua reprodução, recolha de ninhos, cadáveres de animais que morrem à beira da estrada e que são levados para a escola para serem reconstituídos os esqueletos - muitos sabem das experiências da professora e avisam "quando encontram qualquer coisa mais estranha".
Estas são algumas das actividades desenvolvidas dentro e fora da escola e que fazem de Paula Canha "uma professora especial", diz Fernando Almeida, vice-presidente do conselho executivo. "Quando vimos que existia este concurso, pensámos logo: nós temos uma pessoa para isto", conta. "Não é porque goste de se evidenciar. É uma pessoa muito discreta e simples. Mas é reconhecida porque o seu trabalho é excelente."
A criatividade na sala de aula, a dinamização de inúmeros projectos com alunos, alguns premiados a nível internacional, e o trabalho à frente do clube de ciências da escola acabaram por resultar na atribuição do Prémio Inovação. "Estou sempre a pensar noutras maneiras de ensinar, sobretudo quando as matérias são mais "intragáveis". É como cozinhar nabos cozidos de forma a que consigam comê-los e que não saibam tão mal."
Da página da disciplina na Internet, com ligações a sites relacionados com os temas, documentários e exercícios, às experiências em laboratório e fora de aulas, passando pela colaboração com universidades e empresas locais são muitas as estratégias que utiliza para cativar os miúdos. E com alguma hão-de "atinar", confia.
Os alunos retribuem com igual empenho e dedicam feriados a saídas de campo e fins-de-semana em acampamentos improvisados dentro da escola a trabalhar nos projectos.
"É incansável a tirar dúvidas." "Contagia-nos com o entusiasmo com que dá as aulas." "É superboa professora e uma grande amiga. Sabemos que mais tarde podemos contar com ela." "Tudo isto não a impede de entregar os testes corrigidos nos dias a seguir. Porque é extremamente profissional e sabe organizar-se. Tem três filhos, uma casa, os viveiros [de aquacultura]...", descreve Samuel. Os alunos do clube de ciências não poupam elogios a Paula Canha, esta bióloga de 43 anos que só mais tarde percebeu que ser professora era a sua vocação. "Houve uma altura em que tive de optar entre dar aulas e continuar no projecto de aquacultura [que lançou em Vila Nova de Milfontes]. Não consegui deixar a escola e percebi que me tinha enganado na profissão... O ambiente não tem nada a ver com o dos negócios. É puro. Os miúdos são muito espontâneos, dizem o que lhes vai na alma. E é um trabalho que não é rotineiro." I.L.
a O contrário de estar out é estar in. E Teresa Pinto de Almeida faz por estar in. "Ninguém quer estar out, nas margens da invisibilidade. O professor, se quer estar próximo dos alunos, tem de estar sempre in." Tem de estar in para, no meio de uma aula onde ele está sempre proibido, anunciar que naquele dia há um exercício para fazer com telemóvel.
Aos 50 anos, Teresa Pinto de Almeida, professora de Inglês há 16 na Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto, viu o Ministério da Educação entregar-lhe o Prémio Carreira. Ficou orgulhosa, claro, mas quis dedicar a distinção "a todos os professores que, diariamente, dão o seu melhor pelos alunos". "Fiquei sobretudo contente por entender que este é o reconhecimento e valorização da actividade do professor. Este prémio não é meu, dedico-o à classe."
Foi por "circunstâncias várias", e ao arrepio da tradição de família, que Teresa Pinto de Almeida se inscreveu num curso de Filologia Germânica. "Sempre gostei de línguas pela capacidade que elas têm de desenvolver as competências interculturais." Hoje é isso que põe em prática nas aulas. "Uma língua estrangeira é um espaço privilegiado para promover a interculturalidade e para preparar os alunos para o exercício da cidadania."
E se há 28 anos, quando começou a carreira numa escola de Vila do Conde, o ensino era mais "elitista", hoje "a diversidade de públicos obriga a que as aulas sejam preparadas com base numa diferenciação pedagógica", diz. "Hoje é muito mais complexo ser professor."
Antes de tudo, o professor é "um organizador de aprendizagens" mas, porque a sociedade "exige cada vez mais à escola", tem também de ser "mobilizador dos alunos em torno da realização de projectos que eles vêem como importantes para a sua vida". E tem ainda de ser "um amigo". É por tudo isto que as suas aulas são pensadas ao pormenor. "Está provado que o tempo de atenção do aluno numa sessão expositiva é muito reduzido, pelo que as aulas têm de ser muito dinâmicas", explica. As dela são mais ou menos assim: tenta sempre abordar "temas de actualidade", usa as novas tecnologias, leva à sala native speakers (uma turma do 8.º ano entrevistou o treinador de futebol Bobby Robson), alterna as actividades de reading, listening, speaking - reserva sempre uma parte "para a apresentação de trabalhos" porque, insiste, assim prepara os alunos "para o exercício da cidadania participativa".
E porquê o Prémio Carreira? O currículo fala por Teresa Pinto de Almeida: em 2000 terminou o mestrado em Estudos Anglo-Americanos; é autora de manuais escolares (também para Angola) e dos programas da disciplina (também para São Tomé e Príncipe); orienta a formação inicial e contínua de professores. "Todas estas actividades possibilitaram-me experiências privilegiadas. Contactei com muitos professores, com as mais variadas idiossincrasias, e aprendi com todos eles."
Carla Duarte, presidente do conselho executivo, que marcou para esta tarde uma sessão de homenagem a Teresa Pinto de Almeida, diz que, por tudo o que fez pelos alunos e pela escola, o nome dela "foi imediatamente consensual" para apresentar uma candidatura ao concurso nacional de professores. A aposta foi ganha, já se viu. "Ficámos muito satisfeitos com o prémio porque é também uma forma de dar visibilidade à escola e ao seu projecto educativo." S.S.C.
a Será enfado? "Com esta coisa quase deixei de ter tempo para o que gosto..." Modéstia? "Isto é circo", diz, referindo-se aos autocolantes que espalharam a sua cara por tudo o que é parede da escola - "Estamos muito contentes!". Ironia? "Se calhar ganhei porque o júri reconheceu a minha tralha consolidada."
Talvez uma soma disto tudo ou nada disto. Há uma verdade e é esta: a vida de Arsélio Martins, 59 anos, quase deixou de lhe pertencer desde que foi anunciado como vencedor da primeira edição do Prémio Nacional de Professores. Não é que ter jornalistas à perna durante uma semana o aborreça; só que ele tem cada vez menos tempo. "E o que eu mais preciso enquanto professor é de tempo", explica, depois de uma aula de 90 minutos do 10.º B da Escola Secundária José Estêvão, em Aveiro.
A escola está "muito contente", já percebemos. Ele, professor de Matemática há 35 anos, está sobretudo "honrado" por ter sido distinguido no seio da escola de José Pereira Tavares (1887-1983), professor e reitor do então Liceu de Aveiro. "Ao pé deste tipo sinto-me um nabo." Não há quem confirme esta informação. Funcionária de olhos verdes escondidos atrás de uns óculos: "O professor Arsélio é espectacular. É um homem pequeno mas uma grande pessoa." Ana Santos, aluna do 10.º B: "É diferente de todos os professores que já tive. Consegue tornar a Matemática mais simples e explica que ela está em tudo o que fazemos." Maria da Luz, professora de Matemática: "Não desiste enquanto não faz os alunos perceber o que ele está a explicar." Alcino Carvalho, presidente do conselho executivo: "Não se esgota na faceta de professor."
E agora, professor Arsélio? "Eu sou basicamente um produto da educação. Sou filho de camponeses de Santo André, Vagos, fui criado por uma irmã, quis ser padre mas a minha família não deixou, tentei ser marinheiro porque achava que era a melhor maneira de ser poeta." Não sabe se foi por acaso que foi parar a um curso de Matemática Pura. "Não era bom nem mau aluno, mas não houve nenhuma paixão assolapada."
Com verdadeira paixão fala da sua intervenção cívica. Foi dirigente associativo, envolveu-se na política (é deputado municipal pelo Bloco de Esquerda), tem um blogue (aveiro.blogspot.com/). No campo da educação, foi presidente do conselho executivo da José Estêvão, orientou estágios, dirigiu o Centro de Formação de Escolas de Aveiro, foi co-autor dos programas da disciplina, fundou o Sindicato dos Professores do Norte.
Na sala de aula - "a parte mais difícil, a relação directa com os alunos, mas também a que mais me realiza" - o que mais lhe interessa é "não perder nenhum aluno". "Quando perco um é uma desgraça completa", diz. E o segredo, se é que é segredo, é "arranjar estratégias que possam ir ao encontro das necessidades de cada um".
Defende que a melhor forma de potenciar o sucesso numa disciplina como a Matemática é permitir que os alunos tenham o mesmo professor ao longo de um ciclo de estudos - "eu tenho de ter persistência, respiração e tempo". Não dá "nada em papel aos alunos, para eles se habituarem a tirar notas", constrói com as próprias mãos sólidos geométricos para mostrar aos estudantes, maneja com destreza o quadro interactivo - "uma óptima ferramenta". "Sou um professor clássico que foi incorporando tudo o que há de moderno." Mas não é um professor modelo. "Ninguém deve imitar-me. Meti muita água. Mas faço o que gosto e melhor do que isso não há no mercado." Sandra Silva Costa

How Madison Avenue Is Wasting Millions on a Deserted Second Life

WIRED MAGAZINE: ISSUE 15.08

How Madison Avenue Is Wasting Millions on a Deserted Second Life

Frank Rose Email 07.24.07 | 2:00 AM
Illustration by Eddie Guy

For months, Michael Donnelly had been hearing all about the fantastic opportunities in Second Life.

As worldwide head of interactive marketing at Coca-Cola, Donnelly was fascinated by its commercial potential, the way its users could wander through a computer-generated 3-D environment that mimics the mundane world of the flesh. So one day last fall, he downloaded the Second Life software, created an avatar, and set off in search of other brands like his own. American Apparel, Reebok, Scion — the big ones were easy to find, yet something felt wrong: "There was nobody else around." He teleported over to the Aloft Hotel, a virtual prototype for a real-world chain being developed by the owners of the W. It was deserted, almost creepy. "I felt like I was in The Shining."

Yet Donnelly decided to put money into Second Life anyway. He's no digital naïf: When he joined Coke last summer, the company was being ridiculed for its huffy response to a spate of Web videos showing the soda geysers that erupt when you drop Mentos into Diet Coke. Within weeks, Donnelly had Coke and Mentos sponsoring a contest on Google Video that's gotten more than 5.6 million views. But Second Life was different. "Many places you go, there's still nobody there," he concedes. That's certainly the case with Coke's Virtual Thirst pavilion, where you can long linger without encountering another avatar. "But my job is to invest in things that have never been done before. So Second Life was an obvious decision."

As with Donnelly and Coca-Cola, so with David Stern and the National Basketball Association. Stern, who's been NBA commissioner since 1984, was introduced to Second Life in July 2006, at the annual media and technology retreat hosted by New York investment banker Herbert Allen in Sun Valley, Idaho. Second Life's creator, Philip Rosedale, was one of the presenters, as was Chad Hurley, cofounder of YouTube, another company Stern had never heard of. "My initial impression was, 'Don't people have better things to do with their lives?' Then I said, 'Stupid! You're not the audience.'"

Stern left Sun Valley convinced he'd seen the future, and he was about half right. YouTube has become a powerful tool for pro basketball. The site's NBA channel, launched in February, has already garnered some 14,000 subscribers; users have posted more than 60,000 NBA videos, which have been viewed 23 million times. But over at Second Life, where an elaborate NBA island went up in May, the action has been a bit slower. "I think we've had 1,200 visitors," Stern reports. "People tell us that's very, very good. But I can't say we have very precise expectations. We just want to be there."

Coke and the NBA are hardly alone. Adrift in the uncharted sea that is Web 2.0 — YouTube, MySpace, social networking, user-generated content, virtual worlds — corporate marketers look at Second Life and see something to grab onto. At least 50 major companies have ventured into the virtual world to date, spending millions in the process. IBM has created a massive complex of adjoining islands dedicated to recruitment, employee training, and in-world business meetings. Coldwell Banker has opened a virtual real estate office. Brands like Adidas, H&R Block, and Sears have set up shop. CNET and Reuters have opened virtual bureaus there. It's as if the moon suddenly had oxygen. Nobody wants to miss out.

Ever since BusinessWeek ran a breathless cover story titled "My Virtual Life" more than a year ago, reporters have been heralding Second Life as the here-and-now incarnation of the fictional Metaverse that Neal Stephenson conjured up 15 years ago in Snow Crash. (Wired created a 12-page "Travel Guide" last fall.) Unfortunately, the reality doesn't justify the excitement.

Second Life partisans claim meteoric growth, with the number of "residents," or avatars created, surpassing 7 million in June. There's no question that more and more people are trying Second Life, but that figure turns out to be wildly misleading. For starters, many people make more than one avatar. According to Linden Lab, the company behind Second Life, the number of avatars created by distinct individuals was closer to 4 million. Of those, only about 1 million had logged on in the previous 30 days (the standard measure of Internet traffic), and barely a third of that total had bothered to drop by in the previous week. Most of those who did were from Europe or Asia, leaving a little more than 100,000 Americans per week to be targeted by US marketers.

Then there's the question of what people do when they get there. Once you put in several hours flailing around learning how to function in Second Life, there isn't much to do. That may explain why more than 85 percent of the avatars created have been abandoned. Linden's in-world traffic tally, which factors in both the number of visitors and time spent, shows that the big draws for those who do return are free money and kinky sex. On a random day in June, the most popular location was Money Island (where Linden dollars, the official currency, are given away gratis), with a score of 136,000. Sexy Beach, one of several regions that offer virtual sex shops, dancing, and no-strings hookups, came in at 133,000. The Sears store on IBM's Innovation Island had a traffic score of 281; Coke's Virtual Thirst pavilion, a mere 27. And even when corporate destinations actually draw people, the PR can be less than ideal. Last winter, CNET's in-world correspondent was conducting a live interview with Anshe Chung, an avatar said to have earned more than $1 million on virtual real estate deals, when Chung was assaulted by flying penises in a griefer attack.

One of the things you never see in Second Life is a genuine crowd — largely because the technology makes it impossible. In Stephenson's Metaverse, corporations established their presence along a bustling, almost infinitely long street that residents could cruise at will. Second Life is different. Created by an underfunded startup using a physics engine that's now years out of date, Second Life is made up of thousands of disconnected "regions" (read: processors), most of which remain invisible unless you explicitly search for them by name. Residents can reach these places only by teleporting into the void. And even the popular islands are never crowded, because each processor on Linden Lab's servers can handle a maximum of only 70 avatars at a time; more than that and the service slows to a crawl, some avatars disappear, or the island simply vanishes. "It's really the software's fault," says Andrew Meadows, Linden Lab's senior developer. "Way back when, we used to say, 'This is not going to scale.'"

Blank new world: Desolate corporate headquarters in second life.
Illustrations by Eddie Guy

And yet, so eager are corporate marketers to get in that a small industry has sprung up to help. Business appears to be good — very good. "We have basically not made any sales calls," says Sibley Verbeck, founder and CEO of the Electric Sheep Company, which has built in-world presences for such clients as AOL, Major League Baseball, the NBA, Nissan, Pontiac, and Sony BMG Music. "We would like to. But we can hardly keep up with the Fortune 500 companies that are contacting us."

From an obscure background in computational linguistics, Verbeck has emerged as perhaps the world's leading evangelist for Second Life business opportunities. Dressed in blue jeans and a flannel shirt, his long, dark hair flowing from beneath a wide-brimmed black hat, he looks like a diminutive New Age lumberjack. But Verbeck is also oddly charismatic, with an almost messianic belief in the potential of virtual worlds.

Electric Sheep launched with the mission of promoting Second Life by developing software to make the experience less clunky and off-putting. Bringing in big corporations was a way of generating money and adding new in-world attractions. Marketers weren't interested at first, but that changed after the May 2006 BusinessWeek story and Rosedale's appearance at Sun Valley a couple of months later. "By September, it was crazy," says Giff Constable, an investment banker who joined Electric Sheep after falling in love with Second Life. "A lot of people who missed MySpace said, 'You know what? We shouldn't let that happen again.'"

What do marketers want when they call Electric Sheep? "They don't know," Verbeck says. "Mostly it's 'We've been reading about virtual worlds — is there anything there for us?'" Almost inevitably, the answer is yes. The cost varies greatly: A company can stage an in-world speaking event for as little as $10,000, but hiring Electric Sheep or one of its competitors to create a full-time presence, with a private island and a lot of virtual construction, could run several hundred thousand dollars a year. (Linden Lab leases virtual land to cover its server costs but doesn't take a cut of what companies spend establishing their presence there.) Opt for a really elaborate build, hold frequent events to keep people coming back, and hire an employee or two to keep things running, and the budget could easily hit $500,000 a year.

Joseph Jaffe, the marketing consultant who advised Coke on its in-world presence, dismisses the notion that such efforts might not be worthwhile. "The learning is now," Jaffe says. "You are a pioneer, and with that comes first-mover advantage" — that chestnut from the Web 1.0 boom. And the paltry numbers? "This is not about reach anymore. This is about connecting. It's about establishing meaningful, impactful conversations. So when people ask, 'Why Second Life?' I ask 'Why not?'"

Jaffe logs on to show off Coke's Virtual Thirst pavilion, which was created by Millions of Us, a Bay Area company that does in-world builds. He's a close match for his avatar, Divo Dapto, a trim little figure clad in roll-up jeans and a red-on-white Virtual Thirst T-shirt. "You never know who you're going to meet," Jaffe says as Dapto soars toward the Virtual Thirst pavilion.

The Coke build is expansive, elaborate, and of course empty. But Coca-Cola has a plan. It's sponsoring a contest to create a Virtual Thirst vending machine that it hopes will become ubiquitous in Second Life, just as Coke machines are everywhere in real life. Jaffe professes to be overwhelmed by the number of entries, which he characterizes as "well north of 100."

Suddenly, another avatar materializes. "Ah, there you go," Jaffe exclaims. "Someone's just arrived! I think she's from Japan." As he speaks, Dapto starts air-typing in the weird way that Second Life avatars do, trying to chat up the new Japanese girl. She looks around, then teleports someplace else.

You might wonder what Coke is doing in such a place. "It had a lot to do with hype," admits Michael Donnelly.

Still, despite isolated reports of corporate dissatisfaction with Second Life, the influx continues. Electric Sheep claims to be turning away business. IBM has set up a virtual worlds business unit. Millions of Us, which has also built corporate presences for Intel, Microsoft, Sun, and — full disclosure — Wired, is constructing a virtual Hollywood Hills for show business companies.

What's behind this stampede is not that hard to divine. "A terror has gripped corporate America," says Joseph Plummer, chief research officer at the Advertising Research Foundation, an industry think tank. Plummer has been around Madison Avenue since the early '60s, when modern advertising techniques materialized. "The simple model they all grew up with" — the 30-second spot, delivered through the mass reach of television — "is no longer working. And there are two types of people out there: a small group that's experimenting thoughtfully, and a large group that's trying the next thing to come through the door." Second Life appeals to the latter — the ones who are afraid of missing out, who don't consider half a million dollars to be a lot of money, and who haven't figured out (or don't want to admit) that Second Life is less than the bold new frontier it appears to be.

"For people who've grown up in analog, Second Life is not that hard to understand," says Rishad Tobaccowala, CEO of Denuo, a consulting arm of the global ad giant Publicis Groupe. "I have a store in the real world; I have a store in the virtual world." In contrast, the kind of digital marketing that actually works requires a conceptual leap. Successful online marketing is targeted and specific, like direct mail — but it's direct mail in a fun house, where the recipients can easily seize control of what the mail says, where it goes next, and how it gets there. You need to know how to buy up keywords to maximize search returns, how to make the most of recommendation engines, how to use the viral potential of Web video, how to monitor what's being said in blogs and message boards, how not to blow it by trying to be deceptive. Building a corporate pavilion in Second Life doesn't require any of these things. It's simple and it's obvious.

Virtual worlds will evolve, of course. It's easy to imagine targeted in-world advertising, for example, or a 3-D version of MySpace. Although it won't comment officially, IBM is understood to be working to create a "virtual universe" by building software that will allow avatars to leap from Second Life to World of Warcraft as easily as we now move from Google to Yahoo. The Internet will eventually be full of such 3-D environments; Second Life might even be one of them. But in the meantime, it's just slurping up corporate dollars and delivering little in return.

"Companies say, 'It's an experiment' — but what are they learning?" Tobaccowala asks. "Basically, they're learning how to create an avatar and walk around in Second Life." Which is fine if that's what you want to do. Just don't expect to sell a lot of Coke.

Contributing editor Frank Rose (frank_rose@wired.com) wrote about Leslie Moonves, CEO of CBS, in issue 15.06.

Tuesday, November 20, 2007

Bad Behavior Does Not Doom Pupils, Studies Say

The New York Times

November 13, 2007

Bad Behavior Does Not Doom Pupils, Studies Say
By BENEDICT CAREY

Educators and psychologists have long feared that children entering school with behavior problems were doomed to fall behind in the upper grades. But two new studies suggest that those fears are exaggerated.

One concluded that kindergartners who are identified as troubled do as well academically as their peers in elementary school. The other found that children with attention deficit disorders suffer primarily from a delay in brain development, not from a deficit or flaw.

Experts say the findings of the two studies, being published today in separate journals, could change the way scientists, teachers and parents understand and manage children who are disruptive or emotionally withdrawn in the early years of school. The studies might even prompt a reassessment of the possible causes of disruptive behavior in some children.

"I think these may become landmark findings, forcing us to ask whether these acting-out kinds of problems are secondary to the inappropriate maturity expectations that some educators place on young children as soon as they enter classrooms," said Sharon Landesman Ramey, director of the Georgetown University Center on Health and Education, who was not connected with either study.

In one study, an international team of researchers analyzed measures of social and intellectual development from over 16,000 children and found that disruptive or antisocial behaviors in kindergarten did not correlate with academic results at the end of elementary school.

Kindergartners who interrupted the teacher, defied instructions and even picked fights were performing as well in reading and math as well-behaved children of the same abilities when they both reached fifth grade, the study found.

Other researchers cautioned that the findings, being reported in the journal Developmental Psychology, did not imply that emotional problems were trivial or could not derail academic success in the years before or after elementary school.

In the other study, researchers from the National Institute of Mental Health and McGill University, using imaging techniques, found that the brains of children with attention-deficit hyperactivity disorder developed normally but more slowly in some areas than the brains of children without the disorder.

The disorder, also known as A.D.H.D., is by far the most common psychiatric diagnosis given to disruptive young children; 3 percent to 5 percent of school-age children are thought to be affected. Researchers have long debated whether it was due to a brain deficit or to a delay in development.

Doctors said that the report, being published in The Proceedings of the National Academy of Sciences, helps to explain why so many children grow out of the diagnosis in middle school or later, often after taking stimulant medications to improve concentration in earlier grades.

The findings in the first study grew out of a collaboration among a dozen leading researchers to reassess data from six large child-development studies performed since 1970. Each of these six studies tracked hundreds of children from an early age through elementary school on a number of measures, including reading and math skills, emotional stability and concentration, or attention. Most of the studies used teacher reports to gauge students' emotional and social progress and their ability to pay attention when asked.

The researchers adjusted the findings to eliminate the influence of factors like family income and family structure.

While there was little correlation between behavior problems in kindergarten and later academic success, the researchers did find that scores on math tests at ages 5 or 6 were highly correlated with academic success in fifth grade. Kindergarten reading skills and scores on attention measures - where youngsters with A.D.H.D. falter - also predicted later academic success, but less strongly than math scores did. The pattern was about the same in girls as in boys, and for children from affluent families as well as those from lower-income groups.


The authors of the study suggested that preschool programs might consider developing more effective math training. The findings should also put to rest concerns that boys and girls who are restless, disruptive or withdrawn in kindergarten are bound to suffer academically.

"For kindergarten, it appears teachers are able to work around these behavior problems in a way that enables kids to learn just as much as other kids with equal levels of ability," said the lead author, Greg J. Duncan, a professor of human development and social policy at Northwestern University.

The findings, Dr. Duncan said, have been "very controversial among developmental psychologists who have seen the paper."

One who is concerned, Ross Thompson, a professor of psychology at the University of California, Davis, said it would be a mistake to conclude from the results that programs to guide preschoolers' emotional development were not helpful.

"That would be a double whammy for really difficult kids," Dr. Thompson said, "to have no help managing their behavior and then - wham! - to get labeled as problem kids as soon as they enter school."

In the second study, government psychiatric researchers compared brain scans from two groups of children: one with attention deficit disorder, the other without. The scientists had tracked the children - 223 in each group - from ages 6 to 16, taking multiple scans on each child.

In a normally developing brain, the cerebral cortex - the outer wrapping, where circuits involved in conscious thought are concentrated - thickens during early childhood. It then reverses course and thins out, losing neurons as the brain matures through adolescence. The study found that, on average, the brains of children with A.D.H.D. began this "pruning" process at age 10 1Ž2, about three years later than their peers.

About 80 percent of those with attention problems were taking or had taken stimulant drugs, and the researchers did not know the effect of the medications on brain development. Doctors consider stimulant drugs a reliable way to improve attention in the short term; the new study is not likely to change that attitude.

But the greatest delays in brain maturation were found in precisely those areas of the cortex most involved in attention and motor control, said the lead author of the study, Dr. Philip Shaw, a psychiatrist at the National Institute of Mental Health.

"Those are exactly the areas where we would expect to find differences," Dr. Shaw said.

Doctors cannot diagnose attention deficit or any other psychiatric disorder with imaging technology, in part because brains vary so much that a single series of images can seldom reveal who has a disorder. The new findings suggest that searching for a clear abnormality or flaw is the wrong approach, at least for attention problems.

"The basic sequence of development in the brains of these kids with A.D.H.D. was intact, absolutely normal," Dr. Shaw said. "I think this is pretty strong evidence we're talking about a delay, and not an abnormal brain."

About three in four children do grow out of the problem by early adulthood, he said.

Copyright 2007 The New York Times Company

Monday, November 19, 2007

End league tables, say governors

Last Updated: Saturday, 17 November 2007, 00:07 GMT



End league tables, say governors
Tests
Children sit tests at 11 and 14 which form the basis of league tables
School governors are calling for an end to the current system of league tables and national tests in England.

The National Governors' Association (NGA) said the tables held information that was too narrow and misrepresented what happened in schools.

Instead it wants schools to be given a grade based on comparisons with others in similar circumstances, and tests that check individual pupils' progress.

The government said parents used a wide range of sources to judge schools.

Governors are being held to account for the results of an assessment system that many people argue is unfit for purpose
Phil Revell
NGA chief executive

The NGA is the latest educational body to call for an end to league tables and the national testing regime, which sees children taking exams at ages 11 and 14.

The system is also opposed by teaching unions which want to see more internal teachers' assessments, which are now the method used primarily to check children's attainment at the age of seven - bolstered by tests if they wish.

The NGA said tests taken at the end of national curriculum "key stages" were seen as "targets to be reached and hurdles to be jumped over" rather than a true reflection of how well children or schools were doing.

NGA chief executive Phil Revell will tell his association's conference in London: "Currently governors are being held to account for the results of an assessment system that many people argue is unfit for purpose.

"Many schools are justifiably proud of their examination and test results, but the system does not judge schools accurately in terms of the real progress pupils make as they progress through the system."

Grading system

NGA chairwoman Judith Bennett said current league tables did not provide information about schools that was detailed enough to allow parents to judge their performance.

She said: "We've got no objections to accountability, what we are clear about is that the league tables are not really very informative."

Mrs Bennett said she would prefer to see league tables scrapped or replaced with a system of grading based on comparisons between similar schools.

It was not fair to judge a grammar school's performance against that of a comprehensive, for example, as they had very different intakes, she said.

'Too narrow'

The government attempted to put schools' performance in context by including what is known as a contextual value added score - which takes a school's particular circumstances into account.

But Mrs Bennett said even this was too narrow and many parents did not understand how to read the scores.

The NGA added that primary school tests did not look at individual children's progress and had led to "cramming for 10-year-olds" in many schools.

The Department for Children, Schools and Families said: "We see no reason to change the system already in place which sees inspectors visiting schools, compiling detailed reports and making them available to parents.

"This is just one of the options available when choosing a school and most parents also recognise that it is important to actually visit schools and talk to teachers to see if they think the school would be right for their child."

Thursday, November 15, 2007

Ser bom é saber que se falha...

Director: José Leite Pereira
Directores Adjuntos: Alfredo Leite e David Pontes

Quinta-feira, 15 de Novembro de 2007

Ser bom é saber que se falha...
Ivete Carneiro

Certo dia, agarrou numas tintas e num funcionário da escola e resolveu também "borrar" paredes. As retretes, então, eram uma desgraça. Era preciso perceber "os sinais de rebelião". E distinguir a arte do vandalismo. "Havia tipos que eram grandes artistas nisso..." Entre deixar sujos os muros das malditas casas de banho da José Estêvão ou procurar entender os desenhos e, por que não, ensinar Matemática através deles, Arsélio Martins escolheu a segunda via. "Mas valia borrá-los também um bocado!"

É deste tipo de atitudes perante o ensino que se faz um bom professor? O melhor do ano? Arsélio Martins ri-se com vontade enquanto se debate com as últimas migalhas da castanha apanhada à pressa do magusto tardio promovido por aquela escola de Aveiro. É o vencedor do Prémio Nacional de Professores e acredita que a expressão gráfica dos alunos é uma fonte de informação tão boa como outra qualquer para lidar com eles.

Teimosia e paciência

Um bom professor é aquele que não tem problema em dizer que "a vida é feita de falhanços e de acertos". Um teimoso que precisa de tempo para remendar o que não funcionou e paciência para perceber quando é que os alunos aprendem. Por isso é que defendeu sempre, até na definição de programas de Matemática que ajudou a fazer, que um docente deve acompanhar durante anos os mesmos alunos. "Para saber se deu resultado".

E os dele são bons nesse papão nacional que é o mundo dos números e das equações? Sim, não, talvez. "Demoro um tempo danado para eles perceberem o que eu digo e eu perceber o que eles dizem. O que tenho conseguido é que não estejam contra a Matemática por meu intermédio".

Alguns são brilhantes nas aulas e espalham-se nos exames, outros parecem precisamente o contrário. O que vale é que as notas são dadas tendo em conta o percurso. E a média da sua turma de 12º do ano passado? "Não me lembro!"

"Arsélio forever!" O grito de guerra é lançado por um puto que nem teve ainda a sorte de levar com Arsélio, enquanto as mãos se entretêm com um autocolantes dos milhares que pintalgam a escola. O retrato do professor do ano, o regozijo da escola, "Estamos muito contentes". Um cartaz enorme no antigo portão principal do edifício é completado pela homenagem escrita no átrio. "A tua escola sente-se naturalmente prestigiada e agradecida. Obrigado Arsélio!"

Muita tralha na bagagem

Tem a cara mais multiplicada pelo espaço público do que quando se candidatou pelo Bloco de Esquerda à Assembleia Municipal de Aveiro. Mais gargalhadas e uma sapatada no ombro. "Sou um tipo que tem muita tralha pública acumulada, era natural". O prémio. Ex-dirigente estudantil, sindicalista, autor de programas, membro de comissões no Ministério da Educação e autor de "muitos disparates" escritos sobre Matemática, educação e política, Arsélio diz que não foi o Governo que o premiou.

"Foi a minha escola", que enviou a candidatura , e "um júri nacional". E o que deve ter custado ao primeiro-ministro e à ministra da Educação galardoar o homem que não se coíbe de dizer o que pensa pondo os nomes aos bois e de abandonar uma comissão do plano de acção para a Matemática por discordar do défice democrático de quem gere os destinos da educação.

Mas nada que se pareça com o antigamente, altura em que era "um jovem muito estúpido" que não soube dar valor aos docentes que sobraram da "limpeza à inteligência nacional" feita por Salazar. "Recupera-se melhor uma cidade bombardeada do que uma sociedade sem escola" após anos de uma "guerra" a que os livros chamam de ditadura.

"Ó pá! Estou há meia hora para te dar um abraço". Mais um dos muitos que lhe têm atrapalhado a atenção às aulas. Chatice. "Ó Stor, quero um autógrafo!" Encolhe os pequenos ombros, atira as cascas de castanha para o jardim e ajeita a velha sacola ao ombro. Está satisfeito e assume-se egoísta intitula-se "velhote" aos 59 anos, para ser "desculpado". "Não sou muito formal e ser velhote pode ajudar-me. Gera compreensão nas pessoas!!!"

Carta aberta ao Senhor Presidente da República Portuguesa

Carta aberta ao Senhor Presidente da República Portuguesa

Ílhavo, 22 de Outubro de 2007

Senhor Presidente da República Portuguesa

Excelência:

Disse V. Excia, no discurso do passado dia 5 de Outubro, que os professores precisavam de ser dignificados e eu ouso acrescentar: “Talvez V. Excia não saiba bem quanto!”

1. Sou professor há mais de trinta e seis anos e no ano passado tive o primeiro contacto com a maior mentira e o maior engano (não lhe chamo fraude porque talvez lhe falte a “má-fé”) do ensino em Portugal que dá pelo nome de Cursos de Educação e Formação (CEF).

A mentira começa logo no facto de dois anos nestes cursos darem equivalência ao 9º ano, isto é, aldrabando a Matemática, dois é igual a três!

Um aluno pode faltar dez, vinte, trinta vezes a uma ou a várias disciplinas (mesmo estando na escola) mas, com aulas de remediação, de recuperação ou de compensação (chamem-lhe o que quiserem mas serão sempre sucedâneos de aulas e nunca aulas verdadeiras como as outras) fica sem faltas. Pode ter cinco, dez ou quinze faltas disciplinares, pode inclusive ter sido suspenso que no fim do ano fica sem faltas, fica puro e imaculado como se nascesse nesse momento.

Qual é a mensagem que o aluno retira deste procedimento? Que pode fazer tudo o que lhe apetecer que no final da ano desce sobre ele uma luz divina que o purifica ao contrário do que na vida acontece. Como se vê claramente não pode haver melhor incentivo à irresponsabilidade do que este.

2. Actualmente sinto vergonha de ser professor porque muitos alunos podem este ano encontrar-me na rua e dizerem: ”Lá vai o palerma que se fartou de me dizer para me portar bem, que me dizia que podia reprovar por faltas e, afinal, não me aconteceu nada disso. Grande estúpido!”

3. É muito fácil falar de alunos problemáticos a partir dos gabinetes mas a distância que vai deles até às salas de aula é abissal. E é-o porque quando os responsáveis aparecem numa escola levam atrás de si (ou à sua frente, tanto faz) um magote de televisões e de jornais que se atropelam uns aos outros. Deviam era aparecer nas escolas sem avisar, sem jornalistas, trazer o seu carro particular e não terem lugar para estacionar como acontece na minha escola.

Quando aparecem fazem-no com crianças escolhidas e pagas por uma empresa de casting para ficarem bonitos (as crianças e os governantes) na televisão.

Os nossos alunos não são recrutados dessa maneira, não são louros, não têm caracóis no cabelo nem vestem roupa de marca.

Os nossos alunos entram na sala de aula aos berros e aos encontrões, trazem vestidas camisolas interiores cavadas, cheiram a suor e a outras coisas e têm os dentes em mísero estado.

Os nossos alunos estão em estado bruto, estão tal e qual a Natureza os fez, cresceram como silvas que nunca viram uma tesoura de poda. Apesar de terem 15/16 anos parece que nunca conviveram com gente civilizada.

Não fazem distinção entre o recreio e o interior da sala de aula onde entram de boné na cabeça, headphones nos ouvidos continuando as conversas que traziam do recreio.

Os nossos alunos entram na sala, sentam-se na cadeira, abrem as pernas, deixam-se escorregar pela cadeira abaixo e não trazem nem esferográfica nem uma folha de papel onde possam escrever seja o que for.

Quando lhes digo para se sentarem direitos, para se desencostarem da parede, para não se virarem para trás olham-me de soslaio como que a dizer “Olha-me este!” e passados alguns segundos estão com as mesmas atitudes.

4. Eu não quero alunos perfeitos. Eu quero apenas alunos normais!!!

Alunos que ao serem repreendidos não contradigam o que eu disse e que ao serem novamente chamados à razão não voltem a responder querendo ter a última palavra desafiando a minha autoridade, não me respeitando nem como pessoa mais velha nem como professor. Se nunca tive de aturar faltas de educação aos meus filhos por que é que hei-de aturar faltas de educação aos filhos dos outros? O Estado paga-me para ensinar os alunos, para os educar e ajudar a crescer; não me paga para os aturar! Quem vai conseguir dar aulas a alunos destes até aos 65 anos de idade?

Actualmente só vai para professor quem não está no seu juízo perfeito mas se o estiver, em cinco anos (ou cinco meses bastarão?...) os alunos se encarregarão de lhe arruinar completamente a sanidade mental.

Eu quero alunos que não falem todos ao mesmo tempo sobre coisas que não têm nada a ver com as aulas e quando peço a um que se cale ele não me responda: “Por que é que me mandou calar a mim? Não vê os outros também a falar?”

Eu quero alunos que não façam comentários despropositados de modo a que os outros se riam e respondam ao que eles disseram ateando o rastilho da balbúrdia em que ninguém se entende.

Eu quero alunos que não me obriguem a repetir em todas as aulas “Entram, sentam-se e calam-se!”

Eu quero alunos que não usem artes de ventríloquo para assobiar, cantar, grunhir, mugir, roncar e emitir outros sons. É claro que se eu não quisesse dar mais aula bastaria perguntar quem tinha sido e não sairia mais dali pois ninguém assumiria a responsabilidade.

Eu quero alunos que não desconheçam a existência de expressões como “obrigado”, “por favor” e “desculpe” e que as usem sempre que o seu emprego se justifique.

Eu quero alunos que ao serem chamados a participar na aula não me olhem com enfado dizendo interiormente “Mas o que é que este quer agora?” e demorem uma eternidade a disponibilizar-se para a tarefa como se me estivessem a fazer um grande favor. Que fique bem claro que os alunos não me fazem favor nenhum em estarem na aula e a portarem-se bem.

Eu quero alunos que não estejam constantemente a receber e a enviar mensagens por telemóvel e a recusarem-se a entregar-mo quando lho peço para terminar esse contacto com o exterior pois esse aluno “não está na sala”, está com a cabeça em outros mundos.

Eu sou um trabalhador como outro qualquer e como tal exijo condições de trabalho! Ora, como é que eu posso construir uma frase coerente, como é que eu posso escolher as palavras certas para ser claro e convincente se vejo um aluno a balouçar-se na cadeira, outro virado para trás a rir-se, outro a mexer no telemóvel e outro com a cabeça pousada na mesa a querer dormir?

Quando as aulas são apoiadas por fichas de trabalho gostaria que os alunos, ao sair da sala, não as amarrotassem e deitassem no cesto do lixo mesmo à minha frente ou não as deixassem “esquecidas” em cima da mesa.

Nos últimos cinco minutos de uma aula disse aos alunos que se aproximassem da secretária pois iria fazer uma experiência ilustrando o que tinha sido explicado e eles puseram os bonés na cabeça, as mochilas às costas e encaminharam-se todos em grande conversa para a porta da sala à espera que tocasse. Disse-lhes: “Meus meninos, a aula ainda não acabou! Cheguem-se aqui para verem a experiência!” mas nenhum deles se moveu um milímetro!!!

Como é possível, com alunos destes, criar a empatia necessária para uma aula bem sucedida?

É por estas e por outras que eu NÃO ADMITO A NINGUÉM, RIGOROSAMENTE A NINGUÉM, que ouse pensar, insinuar ou dizer que se os meus alunos não aprendem a culpa é minha!!!

5. No ano passado tive uma turma do 10º ano dum curso profissional em que um aluno, para resolver um problema no quadro, tinha de multiplicar 0,5 por 2 e este virou-se para os colegas a perguntar quem tinha uma máquina de calcular!!! No mesmo dia e na mesma turma outro aluno também pediu uma máquina de calcular para dividir 25,6 por 1.

Estes alunos podem não saber efectuar estas operações sem máquina e talvez tenham esse direito. O que não se pode é dizer que são alunos de uma turma do 10º ano!!!

Com este tipo de qualificação dada aos alunos não me admira que, daqui a dois ou três anos, estejamos à frente de todos os países europeus e do resto do mundo. Talvez estejamos só que os alunos continuarão a ser brutos, burros, ignorantes e desqualificados mas com um diploma!!!

6. São estes os alunos que, ao regressarem à escola, tanto orgulho dão ao Governo. Só que ninguém diz que os Cursos de Educação e Formação são enormes ecopontos (não sejamos hipócritas nem tenhamos medo das palavras) onde desaguam os alunos das mais diversas proveniências e com histórias de vida escolar e familiar de arrepiar desde várias repetências e inúmeras faltas disciplinares até famílias irresponsáveis.

Para os que têm traumas, doenças, carências, limitações e dificuldades várias há médicos, psicólogos, assistentes sociais e outros técnicos, em quantidade suficiente, para os ajudar e complementar o trabalho dos professores?

Há alunos que têm o sublime descaramento de dizer que não andam na escola para estudar mas para “tirar o 9º ano”.

Outros há que, simplesmente, não sabem o que andam a fazer na escola…

E, por último, existem os que se passeiam na escola só para boicotar as aulas e para infernizar a vida aos professores. Quem é que consegue ensinar seja o que for a alunos destes? E por que é que eu tenho de os aturar numa sala de aula durante períodos de noventa e de quarenta e cinco minutos por semana durante um ano lectivo? A troco de quê? Da gratidão da sociedade e do reconhecimento e do apreço do Ministério não é, de certeza absoluta!

7. Eu desafio seja quem for do Ministério da Educação (ou de outra área da sociedade) a enfrentar ( o verbo é mesmo esse, “enfrentar”, já que de uma luta se trata…), durante uma semana apenas, uma turma destas sozinho, sem jornalistas nem guarda-costas, e cumprir um horário de professor tentando ensinar um assunto qualquer de uma unidade didáctica do programa escolar.

Eu quero saber se ao fim dessa semana esse ilustre voluntário ainda estará com vontade de continuar. E não me digam que isto é demagogia porque demagogia é falar das coisas sem as conhecer e a realidade escolar está numa sala de aula com alunos de carne, osso e odores e não num gabinete onde esses alunos são números num mapa de estatística e eu sei perfeitamente que o que o Governo quer são números para esse mapa, quer os alunos saibam estar sentados numa cadeira ou não (saber ler e explicar o que leram seria pedir demasiado pois esse conhecimento justificaria equivalência, não ao 9º ano, mas a um bacharelato…).

É preciso que o Ministério diga aos alunos que a aprendizagem exige esforço, que aprender custa, que aprender “dói”! É preciso dizer aos alunos que não basta andar na escola de telemóvel na mão para memorizar conhecimentos, aprender técnicas e adoptar posturas e comportamentos socialmente correctos.

Se V.Excia achar que eu sou pessimista e que estou a perder a sensibilidade por estar em contacto diário com este tipo de jovens pergunte a opinião de outros professores, indague junto das escolas, mande alguém saber. Mas tenha cuidado porque estes cursos são uma mentira…

Permita-me discordar de V. Excia mas dizer que os professores têm de ser dignificados é pouco, muito pouco mesmo…

Atenciosamente

Domingos Freire Cardoso

Professor de Ciências Físico-Químicas

Rua José António Vidal, nº 25 C

3830 - 203 ÍLHAVO

Tel. 234 185 375 / 93 847 11 04

E-mail: dfcardos@gmail.com

Ílhavo, 29 de Outubro de 2007

Assunto: Carta aberta ao Sr Presidente da República

À Sra Dra Fátima Campos Ferreira

Os meus respeitosos cumprimentos:

Para vosso conhecimento envio cópia da carta aberta por mim endereçada ao Sr Presidente da República.

Grato pela atenção

Domingos Freire Cardoso

Professor de Ciências Físico-Químicas

Rua José António Vidal, nº 25 C

3830 - 203 ÍLHAVO

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E-mail: dfcardos@gmail.com